Carta de Conjuntura Nº 32
Por Maria Andréia Parente Lameiras
Mantendo a tendência iniciada em janeiro, a inflação brasileira medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vem apresentando um comportamento mais favorável ao longo do ano. Após encerrar 2015 com uma taxa de inflação de 10,7%, o IPCA retrocedeu de tal modo que, em setembro, a alta registrada é de 8,5% no acumulado em 12 meses. A forte desaceleração da inflação mensal em setembro (0,08%), influenciada pela deflação dos alimentos no mês após longo período de altas expressivas, fez a inflação acumulada em 12 meses voltar à trajetória de queda. Embora compatível com uma tendência de retorno ao intervalo de tolerância da meta inflacionária, o IPCA ainda se encontra em patamar elevado, mesmo em um cenário que conjuga retração econômica, política monetária restritiva e deterioração do mercado de trabalho.
De fato, uma análise mais detalhada do comportamento recente da inflação mostra que a retração apresentada pelo IPCA em 2016 foi resultado principalmente da forte queda nos preços administrados, cuja taxa de variação em 12 meses recuou de 18,1% em dezembro para 7,9% em setembro, repercutindo o fim dos reajustes represados em 2014 e repassados ao consumidor em 2015. Em contraposição, os preços livres, que, em teoria, seriam mais sensíveis à recessão econômica pela qual atravessa o país e, por conseguinte, deveriam retroagir mais rapidamente, revelam tendência oposta, com taxas de inflação acumulada em 12 meses acelerando de 8,5% em dezembro de 2015 para 8,7% em setembro último.
A trajetória de alta dos preços livres havia sido impulsionada pela forte aceleração da inflação dos alimentos, cuja taxa de variação nos últimos 12 meses, encerrados em setembro, ainda aponta variação expressiva de 16%. Para 2017, por outro lado, para o cenário para a inflação de alimentos é mais positivo. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa de plantio da safra 2016/17 de grãos do Brasil aponta para uma alta da produção esperada de 14,1% em relação à safra passada, considerando o intervalo entre os limites inferior e superior.
Para os próximos meses, expectativa é de uma melhora no cenário de inflação brasileiro. No curto prazo, a desaceleração dos preços dos alimentos, a continuidade na queda da inflação de serviços e os efeitos defasados da apreciação cambial, da ordem de 20% ao longo de 2016, devem contribuir para um recuo mais expressivo dos preços livres. Adicionalmente, a adoção de um ajuste fiscal mais rigoroso e o maior comprometimento da autoridade monetária em cumprir os objetivos estabelecidos nos sistema de metas devem ancorar as perspectivas de inflação em patamares próximos ao centro, ajudando a desinflacionar a economia no médio prazo.