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Crédito

Carta de Conjuntura nº 33

 Por Estêvão Kopschitz Xavier Bastos

O comportamento do mercado de crédito tem sido condizente com o do nível de atividade da economia, registrando contração continuada. O crédito, porém, teve a particularidade de, durante o período de expansão anterior à recessão, ter crescido muito mais que o PIB. Se por um lado esse crescimento em ritmo superior ao do PIB era possível e até desejável pelo nível inicial baixo do saldo total de crédito como proporção do PIB, aparentemente o crescimento foi excessivamente rápido. As famílias, agora com altos encargos financeiros decorrentes do endividamento acumulado, têm pouco espaço para tomar novas dívidas.

A deterioração do mercado de trabalho reduz o potencial da demanda por crédito. No caso das empresas, pesa sobre a demanda por crédito a retração nos investimentos, para a qual contribuem os altos índices de ociosidade da produção. Pelo lado da oferta, o cenário de incerteza faz as instituições financeiras ficarem mais cautelosas na concessão de empréstimos. A propósito, os bancos privados, a julgar pela evolução do estoque de crédito por eles concedido, adotaram essa postura mais prudente já no início de 2012, enquanto os bancos públicos, com o intuito do governo de estimular o crescimento, continuaram a emprestar em ritmo acelerado por mais três anos.

Um aspecto positivo que surge dos dados recentes é que a inadimplência de pessoas físicas não tem crescido e o nível registrado em outubro último, 4,2%, é o mesmo de um ano antes. A das pessoas jurídicas, entretanto, tem aumentado, saindo de 1,9% em dezembro de 2014 para 3,6% em outubro de 2016.

Outra feição ligeiramente melhor que surgiu em outubro foi que a taxa de queda do saldo total de crédito na economia, em termos reais, em relação ao mesmo mês do ano anterior, se reduziu depois de um ano com taxas negativas sempre superiores à do mês anterior. Em outubro, o saldo total de crédito caiu 9,1% em relação a outubro do ano passado, depois de cair 9,4% em setembro. Esse alento nos dados de outubro também aparece na série dessazonalizada da média diária das novas concessões: o total cresceu 1,2% em outubro, em termos reais, em relação a setembro, depois de uma série ininterrupta de quedas por vinte meses.

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Crédito

Carta de Conjuntura nº 32

 Por Estêvão Kopschitz Xavier Bastos

O mercado de crédito tem refletido o ambiente adverso apontado na seção sobre Atividade Econômica desta Carta de Conjuntura, segundo a qual “o ciclo recessivo que atinge a economia brasileira desde o segundo trimestre de 2014 ainda persiste”, e também na seção sobre Mercado de Trabalho, em que se constata que “no segundo trimestre de 2016, as condições do mercado de trabalho permaneceram em ritmo acelerado de deterioração”. De fato, em agosto, o saldo total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) foi 9% menor que em agosto do ano passado, em termos reais. Contrações dessa magnitude foram observadas pela última vez no segundo semestre de 2003. As quedas no valor real das novas concessões são ainda mais expressivas. O total caiu quase 20% em relação a agosto do ano passado.

O endividamento das famílias continuou se reduzindo, enquanto o comprometimento da renda com o pagamento de juros e amortizações tem se mantido estável. O nível do endividamento (43% da renda anual) é baixo em comparações internacionais, mas o comprometimento da renda com o serviço da dívida, de 22% (da renda mensal), é alto. Esse contraste, certamente, decorre das taxas de juros mais elevadas vigentes no Brasil e dos prazos ainda relativamente curtos dos empréstimos no país. O nível atual da proporção de famílias com contas em atraso não é alto em relação à série. Porém, no caso das famílias que dizem que não conseguirão pagar, a subida que começou no início de 2015, e ainda persiste, levou essa variável a níveis consideráveis.

A inadimplência das pessoas físicas (segmento livre) ficou estável, oscilando entre 6,2% e 6,3% desde dezembro de 2015 até agosto de 2016, nível que não aparece como particularmente elevado na comparação com a série. No caso de pessoa jurídica, também no segmento livre, a inadimplência atual, de 5,3%, ao contrário, configura-se como elevada em relação à série histórica. A taxa de inadimplência ajustada pelas reestruturações, que são renegociações de dívidas que os tomadores estavam com dificuldade para pagar, não é muito superior à do cálculo convencional. Para o total do SFN, a inadimplência convencional foi de 3,5% em junho de 2016 e, a ajustada, de 4,4% (0,9 p.p. superior). Em todo caso, deve-se observar que a inadimplência ajustada, em 2016, vem crescendo mais que a convencional.

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Moeda e Crédito

Carta de Conjuntura nº 31

 Por Estêvão Kopschitz Xavier Bastos

Os dados de crédito referentes a abril revelaram piora adicional em relação aos números dos meses anteriores. A queda do saldo de crédito total na economia, descontada a inflação, foi de 6,1%, na comparação com abril de 2015. As médias de novas concessões por dia útil, que já vinham sofrendo fortes quedas, tiveram quedas também grandes em abril. O total caiu 18% em relação a abril do ano passado. O destaque negativo nas concessões foi novamente o crédito direcionado, especialmente os empréstimos para financiamento de investimentos do BNDES e o financiamento imobiliário para pessoas físicas (PF). A participação do crédito concedido por bancos públicos continuou crescendo e atingiu, em abril, 57% do total. A taxa média de juros das operações de crédito com recursos livres para pessoas físicas continuou subindo e atingiu 70,8% ao ano (a.a.). A taxa livre para pessoas jurídicas (PJ), ao contrário, ficou estável entre 31% e 32% a.a. desde janeiro de 2016. No caso dos recursos direcionados, são as taxas de juros médias para pessoas físicas que mostram estabilidade há mais tempo, estando em torno de 10% a.a. desde julho de 2015. As taxas para pessoas jurídicas continuaram em ascensão até janeiro de 2016, quando atingiram 12,3% a.a., e caíram depois, para chegar a 11,6% em abril.

A resistência da inadimplência à crise tem causado alguma surpresa. A fortíssima contração do PIB e seus efeitos sobre o mercado de trabalho, juntamente com os juros elevados, deveriam levar a aumento mais significativo da inadimplência. Um fator que pode estar por trás do pequeno crescimento da inadimplência é a maior participação do consignado, que tem taxa de inadimplência muito menor. A parcela do consignado no total de crédito livre à pessoa física tem crescido nos últimos anos, tendo passado de 21% no início de 2009 para 35% em abril de 2016. Outra explicação poderia ser o maior recurso, por parte das instituições financeiras e dos tomadores, às renegociações de dívidas, de modo a evitar a inadimplência. Mas a comparação da evolução do crédito vinculado à renegociação no segmento de crédito pessoal não consignado com recursos livres com a da inadimplência no mesmo segmento não sugere que isso esteja acontecendo, já que o crédito renegociado como proporção da carteira tem crescido menos que a inadimplência.

A política monetária continua diante da difícil situação que combina recessão de grandes proporções com inflação alta e resistente. Os modelos e cenários usados pelo Copom apontam para inflação na meta em 2017 no cenário de manutenção da Selic e da taxa de câmbio, mas mostram o IPCA acima de 4,5% no cenário em que a Selic é reduzida a partir do segundo semestre de 2016 e o câmbio de desvaloriza cerca de 7% entre junho de 2016 e o fim de 2017. Não obstante, o mercado tem mantido esse cenário de redução da Selic, provavelmente baseado nas perspectivas dos novos esforços de ajuste fiscal, na tendência de queda da inflação observada e na queda das expectativas de inflação, além dos efeitos da forte retração da atividade econômica sobre os preços. Outra maneira de compatibilizar as expectativas com a meta para o IPCA é a possibilidade de revisão para cima da meta em 2017, possivelmente com a compensação de uma meta menor alguns anos à frente. Em 08/6/2016, o Copom manteve a Selic em 14,25%, como amplamente esperado e, no comunicado, repetiu o mesmo texto divulgado na reunião anterior, no qual “reconhece os avanços na política de combate à inflação”, mas pondera que os elevados níveis da inflação observada e esperada “não oferecem espaço para flexibilização da política monetária”.

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