Por Maria Andréia Parente Lameiras e Tarsylla da Silva de Godoy Oliveira
O ambiente inflacionário brasileiro apresenta sinais de maior moderação, embora siga desafiador. Após um período de fortes pressões, a trajetória recente mostra arrefecimento, mesmo que os núcleos permaneçam acima do centro da meta, e as expectativas, desancoradas. Em que pese a comercialização da safra recorde de grãos em 2025, o principal fator de alívio inflacionário corrente tem sido a forte apreciação cambial, cuja valorização de, aproximadamente, 5% no último trimestre reduziu pressões sobre alimentos, bens industriais e combustíveis. Dessa forma, o processo de desinflação na economia brasileira avança, mas ainda de maneira bem gradual e com custo elevado em termos de política monetária.
Em agosto, a inflação brasileira, medida pelo IPCA, voltou a surpreender positivamente ao apontar queda de 0,11%. Além das deflações dos alimentos no domicílio e dos combustíveis, o recuo das tarifas de energia elétrica – beneficiadas pelo pagamento do bônus de Itaipu – gerou uma forte descompressão inflacionária, especialmente para as famílias de menor poder aquisitivo. No acumulado em doze meses, a inflação brasileira recuou para 5,1%, em agosto, refletindo as altas de 6,2% dos serviços livres, de 7,0% dos alimentos no domicílio, de 4,2% dos preços administrados e de 3,8% dos bens industriais.
Apesar desta melhora na margem, a análise do cenário de inflação brasileiro ainda exige bastante cautela para que se possa identificar os pontos de pressão persistentes e os fatores de alívio que podem ser apenas conjunturais. Por certo, o principal ponto de atenção atual não está mais nos preços voláteis das commodities – que explicaram grande parte da inflação no período pós-pandemia –, mas no comportamento dos serviços. Nos últimos doze meses, encerrados em agosto, a inflação dos serviços subjacentes, que traduzem melhor a relação entre oferta e demanda, apontam alta de 7,1%, refletindo, sobretudo, a dinâmica do mercado de trabalho. A taxa de desemprego em níveis historicamente baixos e a renda real em expansão sustentam um nível de demanda por serviços que a oferta, em setores muitos deles intensivos em mão de obra, tem dificuldade de acompanhar. Logo, a pressão salarial nesses setores se torna um custo adicional que vem sendo repassado aos preços finais.