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Cooperação intergovernamental e desenvolvimento sustentável no Brasil são temas de seminário Desafios da Federação

Especialistas destacam os impactos regionais e a necessidade de um modelo de desenvolvimento equitativo

Helio Montferre/Ipea

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (SRI/PR), por intermédio da Secretaria Especial de Assuntos Federativos (Seaf/), promoveu, na última quinta-feira (17), o seminário “Desafios da Federação: Caminhos para promoção do desenvolvimento econômico social e sustentável brasileiro”. Este é o segundo evento para o aprimoramento da cooperação intergovernamental e ao desenvolvimento econômico social sustentável do país, com foco na instalação do Conselho da Federação, um colegiado instituído pelo Governo federal com o apoio do Ipea.

O ministro da SRI, Alexandre Padilha, destacou a relevância desses seminários, pois representam um papel muito importante na dimensão preparatória fundamental para a instalação definitiva em um ato, promovido pelo Presidente da República, de constituir um Conselho da Federação como mesa, instância de diálogo e pactuação e repactuação federativa. “Temos a compreensão que não é possível construirmos um ciclo sólido, sustentável de desenvolvimento do país sem repactuarmos a nossa federação. O Brasil é uma República Federativa, a nossa Constituição nos deu e compreendeu o papel dos três entes da federação, então temos inúmeros ganhos de políticas públicas e temos inúmeros desafios para que possamos dar conta de reiniciar um ciclo histórico de crescimento e de desenvolvimento sustentável em nosso país”, destacou Padilha.

O secretário-executivo da Secretaria de Relações Institucionais, Olavo Noleto, destacou que os estados e os municípios terão vez após o lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que foi lançado no último dia 11 de agosto, e que vai investir R$ 1,7 trilhão em todos os estados do Brasil. “Os municípios terão espaço no PAC. Não tenham a menor dúvida disso, inclusive foi anunciado durante cerimônia de lançamento que tinha uma primeira leva de obras já pré-selecionadas, federais e combinadas com os estados, algumas municipais, que são obras paradas, mas agora uma série de programas serão abertos para seleção de propostas municipais”.

O Brasil precisa ter um espaço que construa mecanismos para que as políticas públicas não se dissolvam, afirmou Noleto sobre o Conselho da Federação. “Este conselho é a tentativa, a construção de um mecanismo que fortaleça a nossa capacidade de coordenar, o conjunto dos entes federados brasileiros. Outros mecanismos surgirão, muitos deles nascerão no Conselho”.

Para o secretário Especial de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, André Ceciliano, enfatizou a importância de aprofundar discussões e conhecimentos antes das reuniões do Conselho da Federação. “Nossa proposta é conciliar o conhecimento científico com a experiência de gestão. Espero que possam contribuir para fortalecer o pacto federativo”. Ele ainda mencionou a participação das associações municipalistas, a academia e a sociedade civil nesse processo, com o objetivo de contribuir para o aprimoramento da cooperação intergovernamental e o desenvolvimento econômico, social e sustentável do país.

Representado a presidenta do Ipea, Luciano Servo, na mesa de abertura, a diretora de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia, Luseni Maria Cordeiro de Aquino, enfatizou a importância da cooperação entre o Ipea e a Secretaria de Relações Institucionais, especialmente no contexto das questões federativas e desafios da Federação brasileira. "A produção do Ipea em temas federativos, financiamento público, arranjos de governança, pacto federativo, consórcios municipais e papel dos estados na Federação e na produção de políticas públicas, pode contribuir e muito para o debate público", disse. "Espero que o seminário, seja mais um passo nessa contribuição conjunta, para fornecer subsídios para enfrentar os desafios de uma federação desigual, considerando tanto as questões de desenvolvimento como ambientais e democráticas, concluiu Aquino, desejando que as discussões resultassem em insights valiosos e produtivos para o debate.

Também presente na mesa de abertura a secretária Nacional de Planejamento do Ministério de Planejamento e Orçamento (MPO), Leany Lemos, observou que o planejamento de médio prazo foi construído com intensa participação, incluindo escuta e diálogo, ressaltando a relevância dessa abordagem para o governo. Coordenação e cooperação são desafios significativos para os governos apontando a falta de coordenação durante a pandemia, lembrando o impacto doloroso dessa ausência na gestão pública. “A coordenação é crucial não apenas em questões fiscais, mas também em transferências, tributação e políticas sociais”, destacou. Lemos mencionou a importância de coordenar metas e prioridades, como a alfabetização na idade certa e a melhoria dos índices educacionais. "É necessário coordenação entre estados e municípios para alcançar transformações efetivas no Brasil". 

Presente no seminário como debatedora, a diretora-adjunta de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Mônica Mora y Araujo de Couto e Silva Pessoa, trouxe à tona o debate sobre o papel do Estado na economia, mencionando a revisão desse papel nos Estados Unidos e como a industrialização pode ser uma estratégia para lidar com a desigualdade e promover um desenvolvimento sustentável. Mora destacou a importância de não apenas reduzir as desigualdades, mas também buscar um aumento geral econômico, envolvendo Estados e municípios nesse processo.

Mora ainda levantou a questão se o Conselho da Federação poderia ser um espaço para discutir não apenas a questão das desigualdades, mas também políticas voltadas para o desenvolvimento inclusivo e sustentável. Já Elaine Cristina Lício, assessora da secretaria Especial de Assuntos Federativos, presente no evento como palestrante, agradeceu a parceria do Ipea na realização do evento e esclareceu que o Conselho da Federação é diferente do Conselho Federativo do Imposto de Bens e Serviços, que está sendo desenvolvido no âmbito da PEC da Reforma Tributária.

"Houve um federalismo conflituoso nos últimos quatro anos, com ausência de diálogo, desmobilização de estruturas de deliberação e desmonte de políticas públicas", destacou Lício apontando também a importância dos consórcios estaduais e municipais. Por fim, a palestrante explicou a governança do conselho, incluindo um plenário e câmaras técnicas para tratar de macro temas e formulação de propostas de políticas públicas, destacando a importância da constante comunicação entre os participantes e resumiu as frentes de atuação do conselho: construção da identidade da secretaria técnica, discussão dos desafios da Federação e mapeamento das agendas.

O diretor de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea, Aristides Monteiro Neto, ressaltou o atual contexto de desafios na pactuação federativa, influenciado por transformações em andamento. De um lado, há uma preocupante tendência de desindustrialização nas tradicionais metrópoles nacionais e capitais dos estados, enquanto, por outro lado, observa-se o crescimento do agronegócio e da mineração. Essas duas forças em atuação no território nacional estão inegavelmente moldando a trajetória e dinâmica do desenvolvimento regional no Brasil. "Esse processo afeta a composição setorial da estrutura produtiva predominante e coloca o país em uma trajetória de renda média limitada. É essencial refletir sobre que tipo de transformação produtiva estamos buscando e qual é a distância entre essa transformação e o nível de desenvolvimento que realmente almejamos", ressaltou Monteiro.

Monteiro também abordou a necessidade de desarmar a crescente polarização política observada em regiões que sofrem perdas no tecido industrial ou estão vinculadas ao agronegócio. Ele enfatizou que o fortalecimento do pacto federativo deve ser um objetivo central para o desenvolvimento regional e a coesão territorial no país. "Nós temos um novo contexto, o qual chamei de ambiente de turbulências na ordem democrática e no pacto federativo. Isso vem de algum momento a partir de 2015, quando mudanças dimensão política constitucional, levaram à fragilização e esgarçamento do pacto federativo e se traduziram em contestação das políticas públicas, dos esforços de redução de desigualdades e até mesmo da coesão federativa”, pontuou Monteiro.

Ainda de acordo com Monteiro, o debate sobre o desenvolvimento deve considerar qual é o modelo de desenvolvimento em questão: será capaz de gerar receitas públicas para manter o financiamento de políticas sociais e redistributivas? Além disso, ele é inclusivo em termos regionais, atendendo a regiões em crescimento econômico, bem como aquelas com baixa renda e até mesmo as que enfrentam declínio produtivo.

Durante o evento, Sérgio Gobetti, pesquisador licenciado do Ipea e especialista em federalismo tributário, ex-secretário-adjunto de Política Fiscal e Tributária e atual assessor da Secretaria de Fazenda do Rio Grande do Sul, abordou a proposta de reforma tributária com foco na distribuição de impostos e sua influência nos estados e municípios. Gobetti enfatizou a importância de uma reforma gradual, que leve em consideração as partes afetadas, e como a transição para um imposto de base ampla no destino pode impactar a autonomia de estados e municípios. Ele também destacou a necessidade de revisar questões como os royalties do petróleo e critérios do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para garantir uma distribuição mais equitativa.

Ao final do evento, que reuniu autoridades e especialistas para discutir as questões cruciais do pacto federativo e do desenvolvimento territorial, os participantes ressaltaram a necessidade de um diálogo sólido entre os diferentes níveis de governo e a importância da cooperação para o crescimento sustentável do país, centrando seus esforços nessas direções.

Assista na integra o evento

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