BRICS enfrentam o desafio da desigualdade social

BRICS enfrentam o desafio da desigualdade social

Última sessão de encontro dos BRICS no Palácio da Cidade, no Rio, enfatiza a importância de encontrar estratégias comuns em países desiguais

Tecnologias sociais, a décima mesa do encontro, procurou “discutir os processos de inovação pensados para combater a pobreza e a vulnerabilidade social”, resumiu Fabio Veras Soares, pesquisador do Centro Internacional de Pobreza. No seu trabalho, ele citou diversas políticas públicas de sucesso no Brasil, como a campanha do soro caseiro e o Cadastro Único, que é hoje uma das maiores demandas em termos de cooperação internacional com o Brasil.

O russo Alexey Voskresensky, Decano da Faculty of Political Science of Moscow State Institute of International Relations (MGIMO-University), falou do desafio de lidar com as diferenças do grupo de países do BRICS. Segundo ele, “Cada país do grupo tem as próprias especificidades na elaboração da estratégia para a redução da pobreza e da desigualdade”.

Por exemplo, o Brasil tem disparidades regionais, forte desigualdade territorial, concentração regional de indústrias e de empregos no Sudeste e Sul, que cria desigualdade adicional cíclica, desigualdade sócio- econômica regional, distribuição desigual das cadeias industriais, distribuição desigual das instituições de ensino, e as inovações são restritas à parte mais rica do país.

Já a Rússia apresenta profundas raízes históricas de desigualdade, com Coeficientes de Gini (que medem a desigualdade) historicamente flutuantes, grande proporção da economia paralela, nível moderado de renda, desemprego oculto, elevada diferenciação dos salários entre os setores da economia.

A Índia por sua vez, enfrenta múltiplas dimensões da desigualdade (de renda, riqueza, capacidades, escolhas), crescimento da tecnologia da informação, comércio, transporte. Há o sistema de castas e a discriminação com base no gênero.

A China tem uma história de desenvolvimento bem-sucedido, mas aumentaram as desigualdades interpessoais, existe desigualdade regional no acesso à saúde e educação, há uma estrutura econômica dupla, que abarca o setor industrial moderno e o setor agrícola tradicional. Por último, a África do Sul tem padrões históricos de desigualdade, regional, interracial, de classe, de gênero, além da baixa taxa de participação no ensino superior (15%), entre outros fatores.

A chinesa Xu Xu, pesquisadora do China Center for Contemporary World Studies (CCCWS), ressaltou que o governo da China tem papel fundamental na redução da pobreza, com uma série de programas sociais.
O sul-africano Edward Webster, professor emérito da University of Witwatersrand informou que houve uma série de mudanças na política social sul-africana desde a transição do apartheid para a democracia. Ele mostrou como funciona a transformação mais recente, o Programa de Trabalho Comunitário (CWP), que fornece acesso regular a um nível mínimo de trabalho, de forma previsível, como se fosse um emprego de uma "rede de segurança". O foco no trabalho regular tem a intenção de proporcionar uma melhora sustentável na nutrição e saúde.

Por fim, o indiano Harsh Sethi, Editor da Seminar Magazine, reconheceu que, enquanto todos os países dos BRICS têm em comum grandes populações, a Índia é muito mais pobre - seu PIB per capita ajustado pela paridade de poder aquisitivo é menos da metade da China, um terço do Brasil e um quarto da Rússia. Além disso, ao contrário dos outros BRICS, que estão próximos da alfabetização nacional nos grupos etários mais jovens, um quinto de todos os homens indianos na faixa etária 15-24 anos são incapazes de ler ou escrever, assim como um quarto de todas as mulheres na mesma faixa etária.