"Esse congresso fez eu me sentir mais humana". Com essa colocação carregada de um sotaque nordestino e seguida de lágrimas que impressionaram os outros participantes, a cearense Maria Zuleide Teixeira afastou a idéia de que a 5ª edição do Congresso GIFE foi apenas uma reunião de grandes investidores e líderes de organizações, debatendo questões sobre Investimento Social Privado no mundo. Moradora de São Pedro, no Município de Jucás-CE, a congressista, oriunda de comunidade popular, veio para Salvador com ajuda de políticos da região, mas não calcula as dívidas da volta para casa. Zuleide foi uma das participantes da mesa de debates Avaliação, indicadores e acreditação da ação social em perspectiva internacional, que aconteceu na tarde de hoje, dia 4 de abril.
A reunião foi mediada pela coordenadora da área de Ciências Humanas e Sociais da Unesco, Marlova Noleto, e teve como palestrante o professor de Economia da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Flavio Comim, e contou com a contribuição da coordenadora da a'rea de responsabilidade social do IPEA, Anna Maria Peliano.
Global?
Por meio da palestra foi possível notar que a avaliação de programas sociais e políticas públicas vem ganhando cada vez mais espaço entre as discussões sobre gestão social. Daí a pergunta: É possível analisar as questões locais tomando como parâmetro os resultados globais, sem perder de vista as particularidades inerentes a cada região?
Para Comim, não somente é possível, mas também necessário. "Esse tipo de análise é muito importante, mas devemos respeitar os pontos de vista locais para poder aplicar os padrões internacionais que definem comparabilidade", explicou.
Contudo, essas avaliações foram criticadas pelo diretor executivo do Instituto Fonte para o Desenvolvimento, Rogério Silva, que se fez presente na reunião de hoje e descreveu que os indicadores são métodos quantitativos que refletem os interesses políticos de um grupo dominante. "Será que esses resultados nos ajudam a entender questões sociais presentes no nosso cotidiano?", indagou.
O professor de Economia discorda. "A primeira coisa que se deve superar é o dilema entre 'quantitativo' e 'qualitativo'. Precisamos das proposições qualitativas para identificar os problemas acerca da sociedade e das análises quantitativas para utilizar os instrumentos", disse.
Papel da avaliação
Segundo Flavio Comim, as principais funções dos processos avaliativos são: sinalizar os pontos fortes e fracos para a gestão; contribuir para a eficácia das logísticas operacionais; e se relacionar com a estratégia de sustentabilidade da empresa, que não é apenas financeira, mas também social.
Para a coordenadora da mesa, os resultados servem para guiar uma instituição. "Entendo que a avaliação seja para indicar os rumos que uma organização deve tomar, mas é importante atentar para a leitura ética que se faz desses resultados", contou Marlova. Mesmo com os embates ideológicos, uma coisa é clara: o caminho para se instaurar a cultura de avaliação no Brasil está sendo trilhado a curtos passos. O medo é o número 1 no ranking das dificuldades. "Algumas empresas ainda cultivam esse receio e se colocam apenas como financiadores de projetos, afastando-se cada vez mais da própria causa", apontou Anna Maria Peliano.
A mesa de debates fez parte das atividades do terceiro dia do 5º Congresso GIFE e marcou o encerramento do evento em Salvador, com uma sala cheia e uma enxurrada de perguntas do público que aqueceram ainda mais as discussões.
Fonte: Gife |