O estudo não teve por objetivo "adjetivar" a atuação das empresas, mas "conhecer melhor qual o perfil dessas organizações no campo social", diz Nathalie Beghin, coordenadora-adjunta da Pesquisa. Em entrevista à revista eletrônica Consciência.Net, ela afirma que "não se pôs o foco no que as empresas fazem em outros âmbitos da vida social ou ambiental, como por exemplo nas relações de trabalho, relações com o meio ambiente ou, ainda, relações com o poder público". Mesmo que uma empresa seja poluidora de determinado lago ou tenha mantido trabalhadores em situação degradante.
Consciência.Net - Uma das críticas às ações sociais que são feitas pelo setor empresarial é que estas não mudam a lógica da estrutura que mantém boa parte da população à margem da sociedade. É possível que as empresas façam ações mais efetivas, no lugar, por exemplo, das meras doações de alimento e roupa?
Nathalie Beghin. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que num país como o Brasil, que abriga milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, é fundamental a existência de ações ditas "emergenciais", tais como a distribuição de roupas ou alimentos. Betinho ilustrava bem tal necessidade por meio de sua tão conhecida expressão: "A fome tem pressa, não pode esperar".
Em segundo lugar, quando as empresas atuam fortalecendo as políticas sociais, contribuem para ampliar o alcance das mesmas e, portanto, aumentar o acesso de mais pessoas a esses bens e serviços. Este é o caso, quando o setor privado lucrativo se associa aos governos (local, estadual ou federal) para melhorar a qualidade dos serviços ou dos equipamentos sociais, tais como, escolas, postos de saúde, creches, abrigos, dentre outros.
A atuação empresarial na área social pode também gerar impactos positivos quando é resultado de "concertações" entre os diversos atores sociais de uma determinada localidade na qual a empresa resolva atuar. Por exemplo, se uma empresa decide realizar ações sociais numa comunidade vizinha, é interessante que o projeto seja construído por todos aqueles diretamente envolvidos, quais sejam, a própria empresa, os empregados, os sindicatos, outros empresarios locais, poder público, a comunidade beneficiada etc.
Consciência.Net - Muitas das empresas agrícolas, por exemplo, são acusadas de possuírem em seu quadro pessoas em situação de trabalho semi-escravo. O IPEA analisa este fator ao considerar a atuação das empresas na área social?
Nathalie Beghin. O objetivo da Pesquisa do Ipea não é o de adjetivar a atuação das empresas no campo social nem de se referir a chamada "responsabilidade social" empresarial. Trata-se de conhecer melhor qual o perfil dessas organizações no campo social. Nesse sentido, ou seja, o de iPesnvestigar a contribuição do setor privado lucrativo na área social, não se pôs o foco no que as empresas fazem em outros âmbitos da vida social ou ambiental (relações de trabalho, relações com o meio ambiente ou, ainda, relações com o poder público).
Consciência.Net - A pesquisa aponta alguns dos receios que as empresas têm ao investir na área social. De que forma as entidades da sociedade civil poderiam atrair mais investimentos do setor empresarial?
Nathalie Beghin. São poucas as empresas que têm receio de atuar na área social na medida em que a absoluta maioria (acima de 70% delas) realiza algum tipo de atividade nesse sentido. O que a edição anterior da Pesquisa revelou é que as empresas têm resistências a se associar ao Estado para atuar na área social. Do nosso ponto de vista, considerando a magnitude dos problemas sociais no Brasil e a escassez de recursos (quer sejam públicos, quer sejam privados), seria da maior importância que Estado e Sociedade se unissem para, conjuntamente, enfrentar a fome e a pobreza que afetam parte significativa da população brasileira.
Fonte: Consciência.Net |