*Paulo Itacarambi
No final dos anos 1980 e início anos 1990, ouvia-se um bordão onipresente no mercado de produtos e serviços: não basta ter preço, é preciso ter qualidade! Hoje já se pode ouvir novos ecos desse bordão, agora com um importante acréscimo: não basta ter preço e qualidade, é preciso ser sustentável!
A expressão acima reflete uma reação positiva do mercado ao movimento que a sociedade vem fazendo de responsabilização social das organizações privadas e públicas, em decorrência dos crescentes desequilíbrios ambientais, econômicos e sociais produzidos pelas atividades humanas, principalmente aquelas de natureza econômica, cujos efeitos já são claramente perceptíveis nas mudanças climáticas, na desagregação e destruição de importantes ecossistemas naturais, na perda dos valores de coesão social que se observa em nossa sociedade e no aumento da miséria e da violência que se manifestam nas ruas de nossas pequenas e grandes cidades. Desenvolve-se entre as lideranças sociais, culturais, econômicas, científicas e políticas um crescente consenso de que o nosso atual modo de vida é insustentável. Mantidos os padrões atuais de consumo e produção, além do colapso da base material propiciada pelos recursos fornecidos pela natureza, enfrentaremos custos cada vez maiores para adaptar os ambientes naturais e construídos para o convívio humano.
Por outro lado, não será possível incluir, com dignidade, no convívio social, político e cultural, milhões de pessoas que atualmente não têm acesso nem aos serviços básicos necessários à sobrevivência, nem ao mercado de bens e serviços privados. Os recursos fornecidos pela natureza não suportarão o aumento de consumo que será necessário se forem mantidos os níveis de desigualdade na apropriação das riquezas e os atuais níveis de super exploração dos recursos e de desperdício.
Diante desse quadro, a primeira responsabilidade social de uma organização empresarial é conhecer e administrar os impactos de suas atividades e produtos. Além de fazer a tarefa de casa, implantando a gestão sustentável de seu negócio, cabe também à empresa socialmente responsável tomar a atitude pró ativa de promover a mudança de comportamento das demais organizações afetadas pelo seu negócio, ampliando o movimento de responsabilização social. Além do imperativo ético de não fazer aquilo que sabidamente prejudica o outro, a produção sustentável abre um amplo mercado de novos bens e serviços que desafia a criatividade e a competitividade entre as empresas. É o que se pode ver no setor da construção. A construção civil é uma das atividades humanas de maior impacto socioambiental, pois transforma o ambiente natural em espaços adaptados às necessidades das demais atividades sociais e produtivas. É, portanto, um setor que poderá dar grande contribuição para a construção (desculpe pelo trocadilho) da nova cultura de comportamento sustentável.
Este é o desafio que motivou a criação do Conselho Brasileiro da Construção Sustentável (CBCS). Reunindo pessoas físicas e jurídicas dos diferentes elos da cadeia produtiva da construção civil, o CBCS se propõe a promover o comportamento responsável e sustentável em todo o setor, criando referências técnicas para a produção de materiais de construção, desenvolvimento de projetos, métodos construtivos, critérios para investimento, financiamento e incorporação, uso das edificações e planejamento e utilização da infra-estrutura, serviços e espaços urbanos. O objetivo é promover a produção e disseminação da informação e de conhecimentos que permitam ao leitor responder corretamente à pergunta: sua casa é sustentável?
*Paulo Itacarambi é diretor-executivo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.
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