O "empreendedorismo social" passou a ser parte do jargão de políticos, acadêmicos e profissionais do terceiro setor há quase dez anos. Ainda assim, a quantidade de pesquisa séria sobre o assunto permaneceu pequena. Isso agora está mudando. Cinco coletâneas de artigos acadêmicos sobre o assunto foram publicadas em 2007. O livro "Empreendedorismo social", por exemplo, reúne dez trabalhos apresentados na primeira International Social Entrepreneurship Research Conference (ISERC), realizada em Barcelona em 2006.
O público principal é claramente o acadêmico, embora profissionais do terceiro setor mais dados à reflexão também possam se interessar pelos estudos de casos e o estilo consultivo que permeia os artigos do livro. Os editores observam que o empreendedorismo social está na fase do 'entusiasmo emergente' em seu desenvolvimento acadêmico, e esta sensação de dinamismo permeia claramente a coletânea. O livro tem quatro partes: perspectivas e agenda para pesquisa; oportunidade e intenções; estratégia, estrutura e resultados; integração da sustentabilidade e o ambiente.
Na primeira parte, Austin enumera três importantes perspectivas para o exame do empreendedorismo social - a comparativa, a corporativa e a colaborativa - e apresenta uma série de questões-chave dentro de cada uma delas. Em seguida, Perrini e Vurro desenvolvem um modelo descritivo complexo do processo socialmente empreendedor com base na análise de 35 casos.
O relato é amplo e inclui uma rica discussão teórica, mas como eles mesmos reconhecem, o modelo carece de testes empíricos mais detalhados. O mais impressionante nesta seção é a crítica político-social que Cho faz do empreendedorismo social, que oferece insights legítimos sobre os riscos e as oportunidades do empreendedorismo social e representa uma das mais significativas contribuições sobre o assunto até hoje.
A segunda parte inclui dois artigos. Primeiro, Robinson sugere que as barreiras de entrada (mercado) incluem considerações sociais, institucionais e culturais, além de econômicas. Como acontece com vários artigos neste livro, essa contribuição é muito ambiciosa e se beneficiaria de um foco editorial mais aguçado. Segundo, e de forma muito mais concisa, Mair e Noboa mapeiam os antecedentes do comportamento socialmente empreendedor.
Na seção três, Hockerts delineia uma estrutura conceitual das oportunidades socialmente empreendedoras baseadas no ativismo, auto-ajuda e filantropia. Embora essas apresentem perspectivas interessantes sobre uma visão de empreendimento social baseada em recursos, o capítulo não é totalmente desenvolvido. Em seguida, Desa e Kotha examinam a Benetech - um empreendimento social orientado para a tecnologia - e tiram dali uma série de hipóteses globais sobre este tipo de organização. A interface entre tecnologia e inovação social é especialmente pouco pesquisada, assim, essa é uma contribuição bem-vinda e oportuna. A seção é concluída com Haugh detalhando algumas das conclusões do projeto que ela desenvolveu no Nordeste da Escócia.
A seção final se concentra na ampla contribuição dos empreendedores sociais, primeiro para o empreendedorismo ecológico, segundo para as Metas de Desenvolvimento do Milênio. No primeiro, Clifford e Dixon usam o estudo do caso da Green-Works, que recicla móveis, para explorar como uma organização voltada ao meio ambiente pode funcionar como um empreendimento social bem-sucedido. No último, Seelos, Ganly e Mair consideram um grupo de 84 empreendedores sociais da Schwab Foundation e mostram que a maioria tratou diretamente das metas do milênio.
Essa coletânea é uma tentativa de posicionar o entrepreneurship no veio principal do discurso acadêmico. Ela contribui com uma pesquisa empírica e teórica, mas a variedade de posições teóricas e metodológicas assumidas é, por vezes, avassaladora, e a coletânea, como um todo, carece de foco. É também uma falha o fato de o livro não incluir acadêmicos importantes de centros de pesquisa em empreendedorismo social já estabelecidos em Duke, Stanford e Oxford, e nas redes EMES e SEKN. Mesmo assim, é um livro importante que deve ajudar a gerar debates e pesquisas subseqüentes, e sua ambição merece aplausos.
Fonte: Alliance Brasil, com base em matéria de Alex Nicholls. |