Seção 6 - A distribuição dos vínculos formais de trabalho no setor público, por sexo


Os dados deste conjunto apresentam informações relativa à distribuição dos ocupados no setor público por sexo, de 1986 a 2017. As informações são agrupadas e analisadas por Poderes, níveis federativos, regiões, unidades federativas.

A ocupação formal no Brasil aumentou entre os anos de 1986 e 2014, passando de 33,4 milhões de ocupados para 76,1 milhões. Nos anos de 2015 a 2017, entretanto, o mercado de trabalho sofreu os impactos da recessão econômica e reduziu novas contratações. Com isso, a ocupação formal regressou ao nível de 2010, com 65,6 milhões de vínculos.

Esta regressão, entretanto, é consequência da volatilidade do emprego no setor privado, que reduziu seus vínculos formais de 63,4 milhões em 2014 para 53 milhões em 2017. No setor público, a ocupação se manteve estável neste mesmo intervalo temporal.

Na análise dos vínculos de trabalho no mercado em geral -- públicoe privado -- aponta a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho. Em 1986, 32,1% dos postos de trabalho formais eram ocupados por mulheres; em 2017, esta proporção aumentou para 43,3% (gráfico 1).

Embora as últimas décadas tenham registrado aumento da participação feminina no mercado de trabalho, os problemas de segregação ocupacional e discriminação salarial continuam a ser ocorrer, no setor público e privado.

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Masculino - vínculosMasculino - pessoasFeminino - vínculosFeminino - pessoasAnoGráfico 1Total de vínculos de trabalho e de pessoas no mercado de trabalho,por sexo (1986-2017)Fonte: RAIS/MTE. Elaboração e cálculos: Atlas do Estado Brasileiro - IPEA.

Total de vínculos e indivíduos no setor público, por sexo


O setor público é majoritariamente ocupado por mulheres, mas esta predominância começou a partir do final dos anos 1980. Em 1986, a distribuição de ocupações no setor público era igual entre os sexos, entretanto, ao longo do tempo, a participação feminina na esfera pública cresceu, alcançando 59,3% das ocupações em 2017 (gráfico 2). Este crescimento está relacionado principalmente à expansão do emprego público municipal, onde a participação das mulheres no total de vínculso é maior.

As mulheres também possuem maior número de vínculos. Em 2017, havia em média 1,2 vínculos por mulher e 1,1 vínculos por homem, no setor público.

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Masculino - vínculosMasculino - pessoasFeminino - vínculosFeminino - pessoasAnoGráfico 2Total de vínculos e pessoas no setor público, por sexo (1986-2017)Fonte: RAIS/MTE. Elaboração e cálculos: Atlas do Estado Brasileiro - IPEA.

Total de vínculos, por sexo, em cada nível federativo


Em valores absolutos, o número de vínculos aumentou em todos os níveis administrativos na comparação entre 1986 e 2017. Este crescimento foi mais expressivo em nível municipal, que passou de 2,09 milhões para 6,51 milhões de vínculos, em razão do aumento do número de municípios a partir da década de 90 (gráfico 3).

Em toda a série as mulheres constituem a maioria das pessoas ocupadas no setor público municipal, ao longo de toda a série. Mas esta participação aumentou ao longo do tempo e passou de 52%, em 1986, para 66%, em 2017 (gráfico 3). O mais provável - mas esta ainda é uma especulação - que esta expansão relativa no total de mulheres se relacione ao crescimento da contratação em ocupações predominante femininas, como é o caso de professoras e profissionais da área de enfermagem, tal como indicam as seções deste Atlas dedicadas às ocupações no setor público municipal (gráfico 3)

As mulheres também são maioria nas burocracias estaduais, oscilando entre 55% e 60% do total ao longo da série. Nos estados, contudo, esta distribuição foi mais estável, embora com crescimento do contingente de homens, nos últimos anos. Pode-se aventar, como hipótese, que o crescimento do contingente de pessoas ocupadas na área de segurança pública, majoritariamente masculino e expressivo no conjunto do serviço público estadual, se relaciona a este crescimento (gráfico 3).

No nível federal, os homens são maioria em toda a série, principalmente pela presença do contingente de militares. A distribuição proporcional entre os sexos permaneceu relativamente estável, embora com maior oscilação nos números absolutos que os demais níveis. Os homens oscilaram entre 64% e 70% do total dos ocupados, mas não houve uma tendência linear de ampliação ou redução da distribuição entre sexos. Quando os militares são excluídos do cálculo, a maioria masculina persiste e representava 54% do total de vínculos civis federais, em 2017 (gráfico 3 e 5).Sugere-se ao leitor observar a seção metodológica para esclaricmento do método de construção da série histórica com o total de vínculos militares, desde 1986.

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AnoAnoGráfico 3Total de vínculos em níveis federativos, por sexo (1986-2017)FederalEstadualMunicipalFonte: RAIS/MTE. Elaboração e cálculos: Atlas do Estado Brasileiro - IPEA.
400K200K0200K400K199019952000200520102015500K250K0250K500K0%20%40%60%80%100%1990199520002005201020150%20%40%60%80%100%
AnoAnoGráfico 4Vínculos federais (militar e civil), por sexo (1986-2017)Militar federalCivil federalFonte: RAIS/MTE. Elaboração e cálculos: Atlas do Estado Brasileiro - IPEA.

Vínculos, por sexo, em cada um dos Poderes


Em termos de distribuição entre os sexos, houve maior estabilidade e igualdade na proporção de homens e mulheres no Legislativo e Judiciário. No Poder Executivo, as mulheres se tornaram maioria cada vez mais ampla, e passaram de 50% para 62% dos vínculos. Ainda assim, no Poder Judiciário a ocupação feminina foi crescente e aumentou de 46% para 53% entre 1986 e 2017.

O crescimento da ocupação feminina no Executivo é, como já se mencionou antes, decorrente da combinação da expansão dos vínculos públicos no nível municipal combinado com o fato de a contração de ocupações majoritariamente preenchida por mulheres ter se expandido neste nível. Este é o caso das ocupações associadas às políticas de bem-estar social e ao cuidado, a exemplo da ocupação 'enfermagem' ou 'professora'.

6M3M03M6M199019952000200520102015200K100K0100K200K200K100K0100K200K0%50%100%1990199520002005201020150%50%100%0%50%100%
AnoAnoGráfico 5Vínculos em Poderes, por sexo (1986-2017)ExecutivoLegislativoJudiciárioFonte: RAIS/MTE. Elaboração e cálculos: Atlas do Estado Brasileiro - IPEA.

Vínculos públicos, por sexo, em cada região do país

A série com vínculos desagregados por região geográfica aponta aumento da participação feminina principalmente na região Sul. Em 1986, a distribuição das ocupações públicas da região Sul tendia à igualdade entre os sexos, entretanto, a proporção de vínculos atribuídos às mulheres cresceu de 51% para 65%, em 2017. A região Sul possui a maior ocupação proporcional de mulheres no setor público (gráfico 6).

A região Centro-Oeste, por outro lado, apresenta o menor índice de participação feminina. Embora a presença de mulheres tenha crescido de 39,9% para 49,3% entre 1986 e 2017, esta é a única região com uma proporção inferior a 50% de ocupação de cargos públicos por mulheres. Em grande medida, este fenômeno se explica pela concentração de vínculos federais no Centro-Oeste, onde está Brasília, combinado ao fato de ser no nível federal que se encontra a maior proporção de homens no setor público. Sintomaticamente, a presença de mulheres em vínculos públicios no Distrito Federal é inferior a 30% dos vínculos (gráfico 6).

Na região Nordeste, a mulheres passaram de 39% a 41% entre servidores federais. Caíram de 56% a 52% entre os servidores estaduais, bem como de 66% para 64% entre as servidoras dos municípios.

Na região Norte, as mulheres permaneceram sendo 39% do total dos servidores federais; caíram de 58% a 55%, sendo sempre maioria, no nível estadual, e caíram de 66% para 61% no nível municipal.

Na região Centro-Oeste, no nível federal, as mulheres passaram de 24% a 22%; nos estados, subiram de 57% para 58% e no nível municipal passaram de 64% para 66%.

Na região Sudeste o percentual de mulheres no setor público se manteve em 39%; no nível estadual, passaram de 59% a 56% e nos municípios, subiram de 63% para 67%.

Na região Sul, as servidoras federais passaram de 42% a 44%, as servidoras estaduais subiram de 60% a 62% e nos municípios passaram de 65% a 69%.

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AnoGráfico 6Sudeste: total de vínculos públicos, por sexo (1986-2017)Fonte: RAIS/MTE. Elaboração e cálculos: Atlas do Estado Brasileiro - IPEA.RegiãoSudeste▼
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AnoGráfico 7São Paulo: vínculos públicos, por sexo (1986-2017)Fonte: RAIS/MTE. Elaboração e cálculos: Atlas do Estado Brasileiro - IPEA.EstadoSão Paulo▼

Remunerações médias de homens e mulheres

A remuneração média do setor público espelha a mesma desigualdade nas remunerações observadas no setor privado. Nos três níveis, nos três poderes, e nos 32 anos da série, homens têm remuneraçõe média superior à remuneração média das mulheres; esta diferença aumentou nas últimas décadas. Em 1986, a média salarial dos homens no setor público brasileiro era 17,1% superior à das mulheres. Em 2017, esta diferença aumentou para 24,2% (tabela 1).

Apesar do ingresso na administração pública ocorrer via concurso, e a regra da isonomia proibir remuneraçào desigual para a mesma função, em uma mesma unidade administrativa, os dados agregados fazer emergir este padrão estrutural de desigualdade.

A única situação na qual a remuneração média de mulheres é superior aos homens é no Executivo Federal, mas somente quando se incluem os militares. A preponderância de homens entre os soldados, que são maioria e recebem remuneração abaixo da média federal joga a média da remuneração de homens para baixo. Quando a média se aplica apenas aos servidores civis, a diferença a favor os homens reaparece.

No nível municipal, a diferença das remunerações médias aumentou de 4,1% para 4,9%. Homens receberam remuneraçõa média de R$ 2.960 e mulheres receberam R$ 2.815.

No nível federativo estadual, a diferença salarial entre homens e mulheres aumentou de 21,1% para 25%, em 2017. Neste ano, a remuneração média dos homens foi R$ 5.853 e a remuneração médias das mulheres foi de R$ 4.391 (gráfico 8).

No nível federal, quando incluídos os militares, a remuneração média dos homens era 3% superior às mulheres, em 1986 e passou a ser 11% inferior, em 2017. Quando calcula-se somente a remuneração dos vínculos civis.

Aplicando-se o recorte por Poderes, observa-se que a diferença na remuneração, sempre favorável aos homens, só não aumentou ao longo do tempo no Poder Judiciário. Em 1986, a remuneração média dos homens ocupados no judiciário era 14,2% superior à das mulheres. Em 2017, esta diferença diminuiu para 6,2%. Neste ano, homens com vínculo de trabalho no Judiciário receberam, em média, R$ 12.502, e as mulheres receberam, em média, R$ 11.721.

No Poder Legislativo, a diferença favorável aos homens se manteve praticamente estável nestas três décadas: aproximadamente 12%. Em 2017, a remuneração média dos homens foi de R$ 6.391 e a remuneração das mulheres foi de R$ 5.621.

No Poder Executivo, a diferença favorável aos homens subiu de 17% para 25%, no mesmo período. Em 2017, a remuneração media dos homens foi de R$ 4.571 e a remuneração média das mulheres foi de R$ 3.473.

199019952000200520102015R$ 2000R$ 2500R$ 3000R$ 3500R$ 4000R$ 4500R$ 5000
MasculinoFemininoRemuneração médiaGráfico 8ARemuneração no setor público, por sexo (1986-2017)Fonte: RAIS/MTE. Elaboração e cálculos: Atlas do Estado Brasileiro - IPEA.PúblicoFederalEstadualMunicipalExecutivoLegislativoJudiciário
20172016201520142013201220112010200920082007200620052004200320022001200019991998199719961995199419931992199119901989198819871986Ano24.2%24.4%25.1%24.8%24.7%24.5%25.3%26.1%26.0%25.9%25.9%26.3%26.0%25.9%26.4%27.0%28.5%25.7%26.2%23.7%24.1%25.0%27.2%19.2%24.8%23.6%22.2%23.0%25.0%19.6%19.4%17.1%Público-11.0%-13.5%-11.3%-13.1%-13.1%-10.2%-13.0%-0.2%-10.7%-9.6%-1.5%-7.1%-11.2%-13.5%-11.7%-14.5%-5.6%-15.8%-10.9%-17.5%-21.3%-10.1%-12.9%-10.3%-5.2%-4.9%-15.1%-15.8%-4.4%-4.0%1.1%3.1%Federal25.0%25.8%25.0%24.6%24.7%23.5%23.6%24.5%24.3%24.4%24.6%24.7%24.3%23.9%24.8%26.3%27.1%25.4%25.7%24.1%25.5%25.3%27.1%23.3%26.4%27.9%27.5%24.5%25.4%17.6%21.9%21.1%Estadual4.9%6.0%7.2%8.1%8.5%8.8%9.5%10.2%11.1%11.0%11.5%11.8%13.2%13.3%14.4%14.0%14.7%15.3%16.3%15.0%16.7%14.6%13.6%-5.5%9.8%7.9%7.6%8.4%8.2%7.0%8.4%4.1%Municipal24.7%24.8%25.9%25.5%25.4%25.2%26.3%27.2%27.2%27.1%27.2%27.7%27.2%27.0%27.7%28.5%30.1%26.7%26.9%24.7%25.0%25.7%28.4%19.3%25.6%23.8%22.8%23.7%25.7%19.6%19.5%17.1%Executivo12.0%12.7%11.4%11.8%11.3%11.1%10.5%10.2%9.8%9.8%9.6%9.9%11.1%12.2%9.5%10.5%9.8%10.6%11.3%8.9%10.5%10.1%9.4%9.4%9.5%12.6%8.4%8.5%10.3%10.9%10.3%11.6%Legislativo6.2%5.5%3.8%5.0%4.9%5.1%4.5%4.0%4.0%3.0%2.9%2.7%5.4%7.0%7.0%6.0%6.8%8.7%9.7%8.7%9.4%11.5%11.3%14.0%18.6%21.0%17.2%13.3%15.8%21.0%18.9%14.2%Judiciário
Tabela 1Difirença entre remuneração média mensal masculina e femininaFonte: RAIS/MTE. Elaboração e cálculos: Atlas do Estado Brasileiro - IPEA.

Remunerações média de homens e mulheres, por níveis de escolaridade


A diferença favorável aos homens nas remunerações médias se mantém mesmo quando os níveis de escolaridade dos dois sexos é equivalente. Para retormar a classificação em 4 níveis de escolaridade -- ver seção sobre escolaridade -, obseva-se que, no nível 1, fundamental incompleto, as mulheres receberam menos em toda a série. Para o nível 2 -- fundamental completo ou médio incompleto -- o mesmo padrão se repete, bem como para os níveis 3 (até nível superior incompleto) e nível 4 (nível superior completo).

Este controle dos níveis de escolaridade deveria, rigorosamente, também ser aplicado em cada um dos poderes, para que se possa compreender mais a fundo a natureza das disparidades remuneratórias observadas. Em todo caso, é somente com a análise detida das remunerações médias por ocupações é que se poderá compreender mais a fundo a origens daquelas disparidades remuneratórias e confirmar a hipótese de que trata-se da predominância de mulheres em ocupações com remunerações médias inferiores.