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Economia circular: comunidade amazônica dá exemplo de sustentabilidade socioambiental

Articulação entre atividades produtivas com aproveitamento de resíduos protege biodiversidade, regenera ecossistemas, gera renda e provê qualidade de vida

Flavio Lobo

O conceito de “economia circular” sintetiza os objetivos de aproveitamento de resíduos, reciclagem, renovação e regeneração socioambiental. Trata-se de superar o modelo, hoje dominante, da “economia linear”, cujas cadeias partem da predação de recursos, passam por um produtivismo sistemicamente ineficiente e terminam no despejo de poluentes na biosfera.

Guiar-se pela economia circular é integrar processos produtivos, tecnológicos, educacionais e políticos (no sentido de gestão coletiva do bem comum) em círculos virtuosos sustentáveis, nos quais os resíduos de cada etapa de transformação de insumos alimentam outras atividades econômicas, em benefício da coletividade e do equilíbrio ambiental. Fórmula valiosa tanto para sanar ou minorar danos aos ecossistemas quanto para o combate à pobreza e a desigualdade.

Um exemplo desse tipo de arranjo socioambiental, de acordo com reportagem da Agência Fapesp, é oferecido pelo município de Carauari (AM), à margem do rio Juruá, onde vivem 28 mil pessoas e as principais atividades econômicas são a pesca do pirarucu, extração de látex, coleta de açaí e produção de óleos vegetais. Na dinâmica circular da economia local, as cascas das sementes usadas para produzir óleos se transformam em compostagem, e as vísceras dos peixes, combinadas a resíduos de outras atividades, como a produção de farinha de mandioca, compõem ração para populações de tartarugas contempladas por programa de conservação ecológica do Juruá.

A experiência de Carauari é analisada em artigo publicado no Urban Sustainability, periódico do grupo Nature, assinado por Michel Xocaira Paes, do Departamento de Gestão Pública (GEP) e do Centro de Infraestrutura e Soluções Ambientais da Fundação Getúlio Vargas (Ceisa-FGV), em coautoria com João Vitor Campos-Silva (Universidade Federal de Alagoas) e José Antonio Puppim de Oliveira (FGV/Ebape).

Exemplo para outras cidades, critério para inovação

Os autores do artigo assinalam que a integração sustentável de atividades é fruto de outra articulação, entre associações produtivas e socioambientais locais, o poder público local, ONGs, universidades e empresas. Entre os principais resultados do processo de adoção da economia circular no município, destacam-se a preservação da biodiversidade, o aumento do bem-estar da população, a ampliação da compreensão e da mobilização coletivas em relação a questões socioambientais implicadas no desenvolvimento humano local, e o fortalecimento da organização social de base comunitária.

Exemplos de economia circular como o de Carauari devem inspirar outras comunidades, instituições e municípios brasileiros. Podem também nortear atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, no sentido da priorização da busca por inovações promotoras ou pelo menos adequadas a dinâmicas circulares de geração de renda e utilização de insumos.

Para ler a reportagem da Agência Fapesp e acessar um vídeo sobre a experiência de Carauari, clique aqui.

Acesse o artigo “Integrating circular economy in urban Amazon” da Urban Sustainability, acerca da mesma experiência, clicando aqui.

Por este link é possível acessar o artigo “Principles, drivers and opportunities of a circular bioeconomy”, publicado em outro periódico do mesmo grupo, Nature Food, sobre princípios ecológicos para a busca da bioeconomia circular.

Para mais informações e outras perspectivas acerca de economia circular, uma boa dica pode ser este programa de rádio recém-lançado pelo Observatório do Terceiro Setor.