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Fundo japonês para criar universidades de elite contempla apenas uma instituição em 2023
Expectativa inicial era a de que até seis instituições fossem beneficiadas, entre elas as universidades de Tóquio e de Quioto
Publicado em 27/09/2023 - Última modificação em 27/09/2023 às 15h07
Um fundo público japonês criado para estimular a formação de um grupo de universidades nacionais de excelência teve um início surpreendente: apenas uma instituição foi contemplada, quando o esperado era que fossem de quatro a seis.
Inspirado no sucesso das “Ivy League”, grupo de universidades privadas de prestígio no nordeste dos Estados Unidos, o Japão lançou em 2021 um fundo de ¥ 10 trilhões, ou US$ 75 bilhões. O objetivo era fortalecer a governança e garantir estabilidade de financiamento às atividades de ensino e pesquisa de suas universidades, em meio a preocupações em relação à classificação dessas instituições em rankings internacionais.
À época do lançamento, o governo japonês afirmou que planejava distribuir 3% do valor total do fundo, o equivalente a ¥ 300 bilhões, ou US$ 2 bilhões, anualmente durante 25 anos entre 4 a 6 universidades selecionadas por um conselho consultivo.
No entanto, no início de setembro, o governo anunciou que a Universidade de Tohoku, em Sendai, será a única a se beneficiar com a subvenção em 2023, ignorando outras nove instituições que também se candidataram para receber os recursos, incluindo universidades de prestígio, como as de Tóquio e de Quioto.
Uma das condições para que as universidades pudessem pleitear esses recursos era a de que elas criassem seus próprios fundos patrimoniais individuais, semelhantes aos das universidades estadunidenses.
O governo também exigiu que elas reestruturassem seus sistemas de governança para serem mais parecidos com os das universidades dos Estados Unidos — o que envolve o estabelecimento de um conselho de administração responsável por supervisionar o funcionamento da instituição e de seu fundo patrimonial.
As universidades contempladas precisariam cumprir alguns objetivos, como concentrar seus esforços de pesquisa em áreas estratégicas, como inteligência artificial, biotecnologia e tecnologia quântica, e em campos emergentes mais arriscados; atrair pesquisadores estrangeiros; construir programas de doutorado multidisciplinares; e melhorar as condições de pesquisa.
O valor exato que a Tohoku receberá ainda não foi divulgado. Segundo a Agência de Ciência e Tecnologia do Japão (Japan Science and Technology Agency — JST), responsável pela gestão dos ¥ 10 trilhões, o montante final será decidido “tendo em conta a situação financeira do fundo”, cujo rendimento bruto em 2022 foi de ¥ 74 bilhões, ou US$ 500 milhões.
O conselho consultivo disse ainda em comunicado que apenas a proposta da Tohoku foi “considerada apropriada” para essa rodada de candidaturas. “Selecionamos universidades capazes de receber e se beneficiar desse tipo de auxílio, tornando-se competitivas internacionalmente”, disse à revista Nature Takahiro Ueyama, presidente do conselho responsável pela seleção das instituições. “Aconteceu de a Universidade de Tohoku ser a única com essa característica nessa primeira rodada de inscrições.”
A Universidade de Tohoku está acima de muitas instituições de ensino e pesquisa japonesas em vários rankings internacionais, mas universidades como as de Tóquio e de Quioto ainda são consideradas líderes de pesquisa no país.
Na proposta, a instituição se comprometeu a adotar o japonês e o inglês como línguas oficiais de ensino e comunicação, bem como a aumentar a proporção de pesquisadores e estudantes estrangeiros para 30%.
Ela também pretende se afastar das estruturas laboratoriais hierárquicas habitualmente utilizadas no Japão, nas quais os professores exercem um controle considerável sobre o rumo e os recursos das investigações, muitas vezes limitando a autonomia dos cientistas em início de carreira.
A Tohoku ainda deve refinar sua proposta antes que o financiamento seja liberado. Se tudo der certo, a universidade utilizará parte dos recursos para promover empresas nascentes — spin-offs acadêmicas — que possam comercializar inovações oriundas de suas pesquisas. O objetivo é criar um fluxo de receita de longo prazo com royalties. A meta da universidade é abrir 1.500 novas empresas em 25 anos.
O Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia do Japão anunciou planos para outra rodada de candidaturas no próximo ano.