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Colaborações científicas entre China e outros países estão em declínio

Retração se deve principalmente à redução da participação chinesa em artigos com cientistas dos Estados Unidos entre 2017 e 2023

Rodrigo Andrade

As colaborações científicas da China com outros países diminuíram desde a pandemia, segundo levantamento feito pela equipe da Springer Nature. Os autores utilizaram dados do InCites, plataforma de análise da produção científica da Clarivate, integrada à base Web of Science, para analisar a quantidade de papers publicados por cientistas chineses entre 2013 e 2023 em coautoria com colegas internacionais.

Eles verificaram que, em 2022, o número total de artigos coassinados por pesquisadores chineses com parceiros de outros países diminuiu pela primeira vez desde 2013. Também a proporção de trabalhos publicados com cientistas de outros países vem caindo em relação à sua produção total. Em 2018, 26,6% — aproximadamente 110 mil artigos — da produção científica chinesa na base de dados do InCites se deu em colaboração com cientistas estrangeiros. Em 2023, essa proporção caiu para 7,2% — ainda que o número total de artigos da China tenha dobrado para 759 mil no mesmo período.

A retração se deve principalmente à redução da participação de pesquisadores chineses em papers com cientistas dos Estados Unidos, a qual caiu 6,4% entre seu pico em 2017 e 2023 — o maior declínio dentre os países incluídos no levantamento. Os resultados estão em linha com uma análise de 2022, que constatou que o número de pesquisadores com afiliações duplas nos Estados Unidos e na China em artigos publicados em periódicos indexados na base Scopus, da editora Elsevier, havia caído mais de 20% entre 2019 e 2021.

É bem provável que a pandemia e as contínuas tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China tenham exacerbado essa tendência. O controverso programa "Iniciativa China", lançado em 2018 pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos para combater casos de espionagem na pesquisa e na indústria, resultou na prisão de vários cientistas por seus vínculos com instituições ou colaboradores chineses. O programa foi abandonado em 2022, mas ainda gera temor entre pesquisadores de descendência chinesa.

Desde então, o governo estadunidense adotou uma série de políticas focadas em reforçar a segurança na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Por sua vez, em julho de 2023, o governo chinês implementou sua lei revisada de contra-espionagem, que ampliou a definição do que constitui espionagem.

A repressão à interferência estrangeira percebida tanto nos Estados Unidos quanto na China está fazendo com que os pesquisadores fiquem mais cautelosos em relação às colaborações internacionais. Para especialistas, tanto as políticas restritivas quanto o clima de medo podem acabar afastando talentos de certos países e áreas, resultando em um êxodo de cérebros e perda de capital humano valioso para as duas nações.