Livro do ano - Macroeconomia |
2006. Ano 3 . Edição 25 - 3/8/2006 O consenso acerca da importância da estabilidade dos preços não inibe polêmicas em torno da política monetária. Muitos sugerem ceder um pouco à pressão inflacionária em troca de crescimento econômico. O problema é que, uma vez liberado, ninguém controla o custo de vida, e quem paga a conta é o trabalhador Por Lia Vasconcelos, de Brasília
Inflação baixa favorece o poder de compra dos trabalhadores. Essa talvez seja a principal conclusão exposta no capítulo sobre macroeconomia do livro Brasil:O Estado de uma Nação. O coordenador, Roberto Iglesias, economista, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e pesquisador do Centro de Estudos sobre Integração e Desenvolvimento (Cindes), analisa o desempenho da economia em 2004 e 2005 em termos de atividade, balança comercial, emprego e evolução scal; além de discutir a política econômica e as relações entre inflação e crescimento no médio prazo. Iglesias acredita que é muito difícil impulsionar o desenvolvimento com relaxamento na política monetária, dado ser praticamente impossível controlar o aumento da taxa de inflação. A fórmula, como mostra a história econômica recente do país, se desgasta em pouco tempo. "A aceleração da inflação, em conjunto com a percepção de uma política monetária frouxa, pode resultar em taxas crescentes, o que afeta negativamente o crescimento econômico", arma. O cerne da questão é que o preço a ser pago pela manutenção dos baixos níveis de inflação talvez seja a redução do crescimento do emprego formal. Há os que defendem essa relação causal. Outros, como Iglesias, contestam-na. "O controle da inflação entre 2003 e 2005 não deteriorou as condições do mercado de trabalho, apesar de ter causado diminuição do crescimento econômico e pequena queda na produção industrial no terceiro trimestre do ano passado", diz. Os números do Instituto Brasileiro de Geograa e Estatística (IBGE) mostram que a taxa média anual de desemprego caiu de 12, 3% em 2003 para 11, 5% em 2004, e para 9, 8% no ano seguinte. A população ocupada cresceu 3, 2% em 2004 e 3% em 2005. Outra característica do período foi o aumento da população ocupada com carteira de trabalho assinada, de 1, 9% em 2004 e 5, 9% em 2005. Para Iglesias, o descontentamento com o crescimento econômico deu margem a uma série de explicações para o fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro entre 2004 e 2005. Uma delas: a busca por taxas de inflação muito baixas teria afetado negativamente a evolução da economia. Seguindo esse argumento, seria desejável trocar a rigidez da política monetária no combate à inflação por maior crescimento. No curto prazo, segundo Iglesias, isso provocaria crescimento com taxas de inflação maiores que as atuais. "No médio prazo, entretanto, não é possível manter uma relação positiva e estável entre taxas de crescimento e inflação. A experiência brasileira mostra isso. E a dinâmica de uma economia, no longo prazo, não depende só da política monetária adotada, mas de outros fatores, como investimento e educação", explica (veja grácos ao lado). Apesar do consenso de que é fundamental perseguir a estabilidade de preços, a condução da política monetária ainda provoca muitas polêmicas. Na maioria dos países com um quadro macroeconômico organizado, a política monetária é conduzida por algum tipo de âncora: câmbio xo, metas monetárias, políticas monetárias com uma âncora implícita, ou metas inflacionárias. Este último é o sistema adotado no Brasil desde 1999, quando foi abandonada a âncora cambial. "O Brasil, pela sua história recente de estabilização, ainda não conseguiu consolidar uma inflação baixa e estável que se congure num ponto de convergência para a formação de preços na economia, mas o sistema do país não é ruim. A estabilidade e o controle inflacionário são fundamentais para o crescimento econômico no médio e no longo prazo", arma Iglesias.
Fonte: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) * Médias ponderadas de taxas de inflação e crescimento por grupos de países. Seguindo o critério da Cepal, as taxas de inflação são ponderadas pela população, e as taxas de crescimento pela participação do PIB de cada país (em dólares constantes) no total do grupo, de acordo com as cifras d calculadas pela própria Cepal. |