2007 . Ano 4 . Edição 31 - 5/2/2007
Os impactos do comércio chinês na América Latina
por Jorge Blázquez-Lidoy, Javier Rodríguez e Javier Santiso (1)
Excepcionalmente, a íntegra do artigo "Anjou o demônio, os impactos do comércio chinês na América Latina" está disponível no endereço
as últimas décadas, a China tornou- se um protagonista econômico importante em termos mundiais. Segundo dados oficiais, em menos de vinte anos a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) elevou-se ao extraordinário patamar de quase 9,5%(3) e sua participação no comércio mundial saltou de mero 1% para mais de 6%. Se mantiver o nível de crescimento comercial, ela será, em breve, a terceira economia mundial, depois dos Estados Unidos e da Alemanha,ultrapassando, pela primeira vez, o Japão. Em 2005, a economia chinesa ocupou o quarto lugar no ranking mundial, à frente do Reino Unido.Segundo Goldman Sachs,em 2040 a China superará os Estados Unidos como principal economia mundial (4).
Mas é possível que grande parte dessa avaliação seja demasiadamente otimista.Alguns analistas se perguntam se o crescimento da China não é impulsionado por uma bolha passageira de investimentos,enquanto outros advertem sobre a possibilidade de uma queda brusca ou expressam preocupação pela fixação do valor da moeda(5) e pelo sistema bancário chinês (6). Para outros analistas, o novo capitalismo chinês não está solidamente firmado no estado de direito, no respeito à propriedade privada e no livre mercado.
Mesmo assim, os estudos confirmam que a participação crescente da China no PIB mundial,aliada à globalização da economia, já está gerando conseqüências significativas em todo o mundo. O impacto cada vez maior da China sobre a América Latina despertou o interesse de algumas instituições importantes voltadas para a região, entre elas a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e a Corporação Andina de Fomento (CAF).
Por um lado, o baixo custo da mão-de-obra e a conseqüente competitividade da China podem prejudicar outras economias.Por outro,seu enorme mercado interno significa uma oportunidade.A China é um anjo ou um demônio para a América Latina?
A primeira constatação é que grande parte do aumento das importações norte-americanas da China não substituíram produtos vindos do México ou da América Central (beneficiados pela proximidade geográfica),senão do Japão e de outros países emergentes. Um bom exemplo pode ser visto no mercado calçadista.No ano de 1988,quase 60% das importações norte-americanas de calçados foram provenientes da Coréia do Sul e de Taiwan, e só modestos 2% vieram da China.Em 2005,a participação chinesa foi de mais do que 70%,enquanto as importações da Coréia do Sul e de Taiwan foram insignificantes.
O surgimento comercial da China como protagonista mundial é,em muitos sentidos,excepcional por sua rapidez e vigor.A economia chinesa é muito mais aberta do que a da maioria dos países emergentes.Em 2005,a soma das exportações e importações chinesas de bens e serviços superou 70% de seu PIB,enquanto nos Estados Unidos,no Japão ou no Brasil foi de 30% ou menos do PIB (ainda que seja possível comparar a cifra da China com a de alguns países latino- americanos,como o Chile e o México,com 60% a 65% ,e também com alguns desenvolvidos, como a Espanha).
Artigo publicado originalmente na Revista de la Cepal, edição de dezembro de 2006 / Edição e tradução: Andréa Wolffenbüttel (2)
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