2009 . Ano 6 . Edição 51 - 07/06/2009
A ousadia da Frente Negra
Na década de 1930, movimento ganhou o respeito da comunidade e das autoridades e se transformou em partido político, que logo depois acabou devido à ditadura de Getúlio Vargas
A discriminação e a segregação racial eram práticas normais no Brasil até meados do século passado: jornais estampavam anúncios de emprego com a ressalva: "Não aceitamos pretos". Foi nesse ambiente que surgiu, em 1931, a Frente Negra, em São Paulo, como um movimento social ousado e diferente dos demais: além da questão social e recreativa, a Frente Negra Brasileira nasceu com a ambição de conquistar espaço no poder, sob a liderança de Francisco Lucrécio, Raul Joviano do Amaral e José Correia Leite. Depois de fundada como entidade nacional, a Frente Negra criou a milícia frente-negrina, uma organização que submetia seus integrantes à rígida disciplina militar.
No início, houve muita reação: acusavam a Frente de fazer "racismo ao contrário". Com o tempo, o movimento passou a ser respeitado pela comunidade negra, pela sociedade paulista e até mesmo pela polícia. A Frente Negra instituiu uma carteira de identidade para seus integrantes que funcionava como atestado de idoneidade. Graças à atuação da entidade, a polícia do Estado de São Paulo começou a aceitar negros na corporação.
À medida que conquistava espaço, aumentavam as divergências ideológicas entre os integrantes da Frente Negra: negros de esquerda estavam em choque com os ideais do nazismo e do fascismo, defendidos por uma parte de seus companheiros, na linha ideológica da Ação Integralista. Apesar das divergências internas, a Frente Negra se expande para diversos Estados e se transforma em partido político em 1936. Mas no ano seguinte Getúlio Vargas dá o golpe de estado, institui o Estado Novo e dissolve os partidos políticos.
No livro Frente Negra Brasileira - Depoimentos, o escritor Márcio Barbosa deixa aos próprios participantes da luta a incumbência de contar a história de um dos mais importantes movimentos de libertação de um povo que, mesmo depois da abolição, não conquistara os direitos de cidadãos. "A Frente Negra foi um movimento social que ajudou muito nas lutas pelas posições do negro aqui em São Paulo. Existiam diversas entidades negras. Todas essas entidades cuidavam da parte recreativa e social, mas a Frente veio com um programa de luta para conquistar posições para o negro em todos os setores da vida brasileira", relata Francisco Lucrécio em seu depoimento.
|