2005. Ano 2 . Edição 14 - 1/9/2005
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada lança radiografia completa do cenário social e econômico do país
Marina Nery
Brasil: o Estado de uma Nação reafirma a missão tradicional do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): pensar o Brasil. E vai além. É a primeira vez que a instituição comunica a um público mais amplo uma análise panorâmica dos problemas nacionais. Com o selo de qualidade do corpo técnico do Ipea, mas também com a participação de grandes nomes da pesquisa nacional de outras instituições, a publicação é um esforço multidisciplinar. Profundo, mas acessível. Cerca de 60 pesquisadores trabalharam de forma harmônica e integrada, ainda que com visões plurais, para colocar diversos temas brasileiros no centro do debate: afinal, como anda a nação?
"O objetivo do livro é organizar a discussão sobre os principais temas do desenvolvimento humano no Brasil", afirma um dos coordenadores da obra, o economista do Ipea Paulo Tafner, que se dedicou ao projeto em tempo integral nos últimos seis meses. Fernando Rezende, economista, ex-presidente do Ipea, que foi convidado para liderar a preparação do livro, aponta uma grande dificuldade do projeto: "Procuramos assegurar que o texto não fosse uma coletânea de capítulos independentes, o que geralmente ocorre em obras dessa natureza". O resultado? "Os capítulos se interligam como partes de um todo", diz o pesquisador associado Regis Bonelli, que contabiliza 40 anos de Ipea. Ex-diretor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e organizador do capítulo "Estabilidade e Crescimento", Bonelli fala com a experiência de ter participado de um dos primeiros trabalhos de peso do Instituto, os Diagnósticos da Economia Brasileira, de 1964, que serviram de base para a elaboração de várias políticas e até de planos do governo. Era um tempo em que não existiam as técnicas quantitativas e os métodos de pesquisa de hoje.
Rigor Apesar da evolução da metodologia de pesquisa, uma das normas da coordenação do livro foi a proibição do abuso de fórmulas matemáticas. Além disso, as tabelas e os gráficos são todos desenvolvidos de forma a propiciar leitura e compreensão rápida para atender a todos os tipos de leitores, especializados ou não. Mas a procura de uma linguagem leve não significa falta de rigor analítico. Um exemplo é o capítulo "Inovação e Competitividade", preparado em conjunto por pesquisadores do Ipea e por Eduardo Viotti, economista, consultor legislativo do Senado para Política Científica e Tecnológica e professor do mestrado de Política e Gestão de Ciência e Tecnologia do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília.
No capítulo, os pesquisadores fizeram o cruzamento da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), do IBGE, com a 3.ª Rodada de Pesquisas de Inovação da Comunidade Européia. "Pela primeira vez, mapeamos o esforço de inovação brasileiro e como o país se posiciona em relação à indústria de outros países. Antes, eram utilizados indicadores genéricos indiretos, específicos para um setor ou outro", esclarece Viotti. Com a ajuda dos estatísticos do Ipea, o IBGE produziu por encomenda uma tabulação de dados especial, compatível com as da Europa. A matriz foi composta de informações sigilosas de bancos de dados do governo sobre o setor privado, com a garantia de que informações individualizadas de cada empresa não fossem divulgadas, mas fosse feita tão-somente uma grande síntese analítica do setor.
Os oito capítulos do livro fornecem não apenas uma visão abrangente e múltipla dos principais problemas nacionais, mas também cobrem os aspectos fundamentais da realidade econômica, social, política e cultural do país. A produção de um conjunto mínimo de denominadores comuns de conceitos, problemas e diagnósticos tem o efeito salutar de nortear e tornar o debate mais produtivo, requisito central para a formulação de possíveis soluções. É uma publicação que retrata, para cada um dos temas em destaque, a situação corrente e os progressos realizados, e que apresenta perspectivas e desafios para a sociedade brasileira.
Versões "Quando surgiu a idéia de fazer o livro, a primeira questão levantada pelos técnicos do Ipea foi: como é que nós vamos produzir esse documento novo?", relata Bonelli. Afinal, ao optar por uma publicação que se dirigisse à sociedade brasileira como um todo, o grande desafio era chegar a uma linguagem que atendesse não só aos cidadãos comuns, mas também aos estudiosos, centros de pesquisa, organizações da sociedade civil, legisladores, gestores de políticas públicas e formadores de opinião. Apesar de voltado prioritariamente para o público brasileiro, o livro pretende alcançar também vôos internacionais. Por isso, serão publicadas, em aproximadamente dois meses, versões em inglês, espanhol e francês. O livro também terá continuidade com uma versão simplificada e adaptada para o público infanto-juvenil e um vídeo institucional, que estão em fase de preparação.
As atividades do projeto de elaboração do livro começaram em julho do ano passado. Bertha Becker, geógrafa e professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), condutora do capítulo "Amazônia: Desenvolvimento e Soberania", que discute alternativas para exploração sustentável da riqueza da região, aprovou a nova experiência. "Ao ler os capítulos dos demais pesquisadores, passamos por um ótimo processo, porque é enriquecedor poder debater e ouvir os colegas", avalia. "Tive a ajuda de mais de uma dúzia de pessoas, principalmente do pesquisador Paulo Levy, que praticamente co-redigiu o capítulo comigo e produzimos um trabalho de grupo, de forma consensual", comenta Bonelli. O cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, coordenador do capítulo "Cidadania e Participação", contou com a colaboração de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Uerj), entre outras instituições. Foram oito meses de pesquisa e outros três de trabalho editorial e gráfico. Brasil: o Estado de uma Nação pode ser adquirido na livraria do Ipea pelos telefones (61) 3315-5336 e (21) 3804-8118, pelo endereço eletrônico
Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
ou acessado gratuitamente pelo site www.ipea.gov.br.
|