2012 . Ano 9 . Edição 72 - 15/06/2012
Foto: Ian Terney
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Daniella Cambaúva – São Paulo
Fruto de uma parceria entre o governo, o Ipea e a ONU, o Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo é um fórum com uma agenda global única no mundo. Ele representa o reconhecimento de que países como o Brasil estão passando por processos bem-sucedidos de transformação social e, portanto, têm muito a compartilhar com o resto do mundo.
Há oito anos, o Brasil recebia, em um andar cedido pelo Ipea, o primeiro Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do mundo. Trata-se de um projeto inédito do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com o foco voltado para a cooperação sul-sul. Conhecido pela sigla IPC-IG, do nome em inglês (International Policy Centre for Inclusive Growth), o Centro surgiu com o objetivo de promover e facilitar a troca de experiências consideradas inovadoras entre os países emergentes. O princípio que norteia suas ações é o de que crescimento inclusivo incorpora todos no desenvolvimento econômico, compartilhando seus benefícios. Trata-se de um fórum global estabelecido a partir da descentralização de unidades da ONU, historicamente sediadas em Nova York, para localidades estratégicas nos emergentes.
DEBATE SUL-SUL O caminho para essa troca de conhecimento, segundo o próprio Centro, é facilitar a difusão de experiências de políticas públicas já materializadas em diversos países. “Esse debate pode inspirar mudanças a partir de modelos e perspectivas que partam do sul: a partir do sul, para o sul e com o sul”, explicou Francisco Filho, porta-voz do órgão.
O trabalho se baseia na divulgação de trabalhos em rede com os governos do sul, em missões de assessoria técnica e em fóruns de aprendizado on-line realizados por meio do Portal de Diálogo Sul-Sul (http://www. dialogosdosul.org.br/).
Atualmente, conforme relata o porta-voz do IPC, as atividades se concentram em políticas e programas de proteção social e transferência de renda, estratégias de desenvolvimento rural e sustentável, inovações para a geração de empregos, uso dos recursos naturais e prestação de serviços de saúde.
Há ainda um processo de capacitação, com jornadas de debates, nas quais participam gestores de países como Uganda, Indonésia e África do Sul. Francisco Filho relata que pesquisadores brasileiros chegam a trabalhar em países como Timor Leste, Síria e Egito. Foram também realizadas missões de estudo integradas por profissionais de China, Venezuela, Vietnã, Bangladesh, África do Sul e Tanzânia. O Centro já produziu mais de 250 publicações, abrangendo programas e políticas públicas de mais de 70 países em desenvolvimento. Desde 2004 já ofereceu oportunidades de treinamento e capacitação para mais de 7,5 mil altos representantes de governos de mais de cinquenta países.
Para o representante do IPC, em todos esses trabalhos, o essencial é verificar “como nosso país está deixando de ser o campeão mundial da desigualdade”. O Brasil figura entre as principais referências na área de proteção social, que busca aliar o desenvolvimento econômico à inclusão daqueles que ficaram de fora da distribuição de seus frutos.
Entre 2003 e 2008, houve redução de 43,03% da pobreza no Brasil. Estima-se que 28 milhões de pessoas deixaram a situação de miséria entre 2003 a 2009, num movimento puxado pelo aumento da renda do trabalho, das aposentadorias e dos programas de assistência social, principalmente pelo Benefício de Prestação Continuada (BCP) e pelo Bolsa Família. Já a desigualdade no país, de acordo com o coeficiente de Gini, caiu de 0,59 em 2001 para 0,53 em 2007.
FOCO NOS EMERGENTES O IPC parte do princípio que a estrutura das economias nos países em desenvolvimento pode aumentar a vulnerabilidade a crises, particularmente se a pauta de exportações tiver alto nível de dependência de e concentração em commodities em vez de bens manufaturados e serviços.
Tais fatores têm impacto no potencial de criação de empregos e na capacidade de se promover a sustentabilidade dos padrões de produção e distribuição de riqueza. “A transformação estrutural da capacidade produtiva deve ser integrada como prioridade às políticas públicas de desenvolvimento para que o crescimento seja inclusivo e resiliente. Estamos acompanhando um renascimento do interesse nas políticas de transformação industrial e estrutural”, diz Francisco.
O trabalho do Centro parte da premissa de que as sociedades com menores índices de desigualdade tendem a ter melhor desempenho no processo de desenvolvimento.
ESTRUTURA O IPC ganhou visibilidade já nos primeiros meses de atividade, ao lançar uma agenda com intelectuais do mundo todo sobre a definição e operacionalização do conceito de crescimento pró-pobres.
O órgão operou nas dependências cedidas pelo Ipea até 2009. Com a criação da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE/ PR), o Centro passou a ocupar, a convite da presidência da República, um escritório na Esplanada dos Ministérios. No mesmo ano, a instituição passou a receber apoio financeiro do governo federal, além da ONU, para a expansão de atividades e para o fortalecimento de parceiras.
Há também contribuições esporádicas de universidades e agências internacionais de cooperação. Existe também uma atuação da sociedade civil por meio de pesquisadores ligados a universidades e intelectuais públicos. Podem participar ONGs, fóruns e associações – “parceiros fundamentais no sentido de fomentar o debate”, diz Francisco Filho.
O Centro está diretamente ligado ao Grupo de Pobreza do Escritório de Políticas para o Desenvolvimento (BDP) do PNUD Nova York. Seu Conselho Diretivo é composto por representantes das Nações Unidas e do Governo Brasileiro, do Ipea, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e do Ministério das Relações Exteriores. O PNUD está presente em 166 países e trabalha com governos, sociedade civil e empresas privadas na criação de soluções para desafios nacionais.
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