Notícias
Desequilíbrio da Amazônia se aproxima do ponto de não retorno
Constatação de que, nos últimos 20 anos, mais de 75% da floresta perdeu capacidade de recuperação indica iminência do risco de rápida transformação do bioma em savana
Publicado em 08/03/2022 - Última modificação em 07/04/2022 às 19h54
Os autores de um artigo pioneiro sobre a resiliência da floresta amazônica recém-publicado na revista Nature afirmam que o desmatamento associado a efeitos das mudanças climáticas – períodos estendidos e mais frequentes de seca – podem já ter feito a floresta amazônica atingir um estado de desequilíbrio irreversível, capaz de transformá-la em savana em apenas algumas décadas.
Produzido por meio da análise de imagens de satélite feitas entre 1991 e 2016, o estudo demonstra que mais de três quartos da floresta perdeu, desde o início deste século, parte significativa da sua capacidade de regeneração, fenômeno agravado nas áreas menos chuvosas e nas mais próximas de atividades humanas – entre as quais se destacam, pelo impacto sobre o bioma, a produção de soja e carne bovina.
É a primeira vez que o risco de a Amazônia estar próxima do “ponto de não retorno”, apontado anteriormente por outros especialistas e estudos com modelagens computacionais, se evidencia por meio de pesquisa baseada em evidências diretas.
Os três pesquisadores que assinam o artigo, vinculados a universidades de Exeter (Inglaterra) e Monique (Alemanha), assinalam que a sobrevivência da floresta amazônica é crucial para a biodiversidade planetária, o equilíbrio climático regional e o ciclo global de carbono. Um processo irreversível de morte desse bioma tem potencial, juntamente com fatores como uma possível mudança sistêmica nas correntes marítimas e o degelo da Groenlândia, para agravar significativa e rapidamente os impactos das mudanças climáticas em escala planetária.
Alarmes adicionais
Em 2021, outra pesquisa, baseada em medições de concentrações de dióxido e monóxido de carbono na Amazônia brasileira, já havia indicado que a região passara a liberar quantidades maiores de carbono na atmosfera do aquelas que o bioma é capaz de capturar. Em artigo também publicado na Nature, os autores do estudo apontaram o aumento das queimadas, sobretudo em razão das mudanças climáticas e do avanço da agropecuária, como fator decisivo para essa danosa inversão do impacto da Amazônia no ciclo global de carbono.
Para o Brasil, o fim da floresta amazônica seria, evidentemente, um processo particularmente destrutivo, implicaria perda irreversível de infinidades de tesouros e recursos naturais e culturais, e causaria um agravamento dramático e acelerado dos impactos das mudanças climáticas, especialmente pela drástica redução de chuvas.
Cabe lembrar ainda que, desde 2016, ano de captação das mais recentes imagens analisadas na pesquisa sobre a resiliência da floresta recém-publicada na Nature, o ritmo de desmatamento da Amazônia brasileira vem acelerando. Em fevereiro de 2022, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) publicou estudo indicando que o desmatamento no bioma foi 56,6% maior entre agosto de 2018 e julho de 2021 que no mesmo período de 2015 a 2018.