Cooperação Internacional. Relações Internacionais
T20 Brasil inspira união global em busca de soluções para crises e conflitos internacionais
Evento ocorreu no Palácio do Itamaraty, no Centro do Rio de Janeiro, e inovou ao debater os meios de implementação das políticas públicas recomendadas por seis forças-tarefa, entregues em julho aos líderes do G20
Publicado em 12/11/2024 - Última modificação em 13/11/2024 às 12h49

Foto: Divulgação T20/Cebri
Em meio a um cenário mundial de tensões geopolíticas, o T20, grupo de engajamento do G20 composto por think tanks e instituições de pesquisa dos países membros, iniciou sua Cúpula nesta segunda-feira (11) em busca de caminhos concretos para enfrentar desafios globais. O encontro no Palácio do Itamaraty, no Centro do Rio de Janeiro, inovou ao discutir os meios de implementação das políticas públicas sugeridas por seis forças-tarefa e entregues em julho aos líderes do G20. O objetivo a partir de agora é fortalecer este debate para que as propostas sejam retomadas com um nivel de maturação mais elevado nas próximas presidências do G20/T20, desbloqueando os recursos necessários e direcionando esforços para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e os compromissos climáticos assumidos no Acordo de Paris.
"Graças à decisão da presidência brasileira de antecipar a entrega das recomendações de políticas públicas para julho, quando apresentamos o Communiqué, pudemos dar agora um passo adiante e apontar caminhos para que os líderes do G20 transformem essas sugestões em ações. A sociedade civil sai mais fortalecida e com maior capacidade para as articulações que serão necessárias para influenciar decisões em outros fóruns importantes, como o Brics+ e a COP30, no próximo ano", celebra Julia Dias Leite, diretora-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Na cerimônia de abertura, os participantes destacaram o papel do Brasil na presidência do grupo, ressaltando que, além de discutir problemas globais, como redução das desigualdades, transição energética e transformação digital, o país também reuniu diferentes vozes e forças – think tanks nacionais e internacionais, membros da academia, representantes dos setores público e privado e da sociedade civil. Organizado por Cebri, Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o encontro reuniu líderes de diversas áreas, incluindo a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, e marca a transição da presidência do T20 do Brasil para a África do Sul, que conduzirá o G20 em 2025.
"Ao trabalhar sob os princípios da inclusão e da representatividade, a liderança brasileira do G20 destaca a importância de se representar vozes múltiplas. Não podemos combater a pobreza e a desigualdade sem ouvir as pessoas que sofrem com isso. Não basta reduzir as desigualdades entre as nações, e sim, dentro delas. Nesse sentido, a África do Sul apoia alianças globais com esse fim", declara Zane Dangor, diretor-geral do Departamento de Relações Internacionais e Cooperação (Dirco) da África e sherpa na próxima presidência do T20, durante a cerimônia de abertura do da Cúpula T20.
A programação da Cúpula, na segunda (11) e na terça-feira (12), foi cuidadosamente desenhada para incentivar uma participação ativa dos integrantes da comunidade do T20 Brasil. Após a cerimônia de abertura, cerca de 200 participantes puderam optar por diferentes sessões de trabalho, duas a cada rodada. Os temas deste primeiro dia de eventos envolviam “Comércio e investimentos para um crescimento sustentável e inclusivo", “Fortalecimento do multilateralismo e da governança global", “Reforma da arquitetura financeira internacional" e “Transformação digital inclusiva". No final da tarde, foi realizado ainda um resumo dos temas debatidos, acompanhado por considerações finais.
"O T20 trouxe contribuições importantes ao G20. É preciso haver esse tipo de engajamento com stakeholders externos, tais como os think tanks. As recomendações das forças tarefas são muito sólidas", avalia Pablo Moreno, diretor do Gabinete de Avaliação Independente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Entre as inovações implementadas pelo Brasil ao liderar o grupo de engajamento, a presidenta do Ipea, Luciana Servo, destaca a busca por mais representatividade, tanto em termos regionais, como de gênero: mais de 60% das das forças-tarefas foram conduzidas por mulheres. Ela também ressalta a importância de as recomendações objetivas, reunidas no Communiqué, terem sido apresentadas Midterm Conference, realizada nos dias 2 e 3 de julho no Rio de Janeiro, e apresentadas às trilhas de sherpas e de finanças do G20. A inédita entrega antecipada do relatório às lideranças abriu espaço para que o T20 Brasil ambicionasse ir além da formulação de recomendações para promover o diálogo sobre estratégias de implementação das políticas públicas sugeridas, como explica Servo: "O T20 foi construído a partir de um amplo processo de participação dos think tanks. Trouxemos agendas superimportantes e estabelecemos um diálogo muito próximo com a trilha sherpas e a trilha financeira. Com isso, também conseguimos ter mais efetividade nas nossas entregas. Ao entregarmos o Communiqué durante as reuniões de meio do ano no G20, aumentamos a possibilidade de incidir na declaração de líderes".
Para o presidente da Funag, o embaixador Raphael Azeredo, o T20 foi uma oportunidade de gerar discussões significativas, além de apoio à pesquisa em relações internacionais. "No T20, foi delineada uma agenda estratégica para pontos como crescimento, transição energética, transformação digital, comércio global e combate à pobreza. Agora, a prioridade é a implementação", afirma o embaixador.
A programação da Cúpula do T20 Brasil nesta terça-feira (12) terá início com um discurso da ex-presidente da República do Chile Michelle Bachelet. As sessões de trabalho versarão sobre temas como “Combatendo desigualdades, pobreza e fome" e “Ação climática sustentável e transições energéticas justas e inclusivas". A agenda oficial do T20 terminará com uma cerimônia oficial de transferência do T20 Brasil para o T20 África do Sul.
Olhares sobre a implementação de políticas públicas
“Os grupos de engajamento têm um papel essencial no sentido de dar voz a diferentes atores para o G20, incluindo grupos liderados pela sociedade civil, sindicatos, think tanks e a academia, entre outros. Os desafios globais cresceram nos últimos 15 anos, com crises que extrapolam fronteiras, como fome, pobreza, desigualdade, redução da qualidade de vida, inflação crescente, desinformação e tragédias climáticas. E essas questões afetam desproporcionalmente os mais pobres. Se o G20 quer fazer a diferença, precisa colocar a desigualdade no centro de sua agenda”, diz o embaixador Maurício Lyrio, do Ministério das Relações Exteriores.
“Em tempos de conflito, o T20 foi capaz de construir dois communiqués, em um intercâmbio de ideias sem precedentes, muito conectado à agenda doméstica brasileira e de outros países em desenvolvimento. Os consensos abrangem a necessidade de fundos globais para a transição energética e a necessidade de investimentos públicos e privados, nesse sentido. Precisamos, agora, trabalhar para conseguir os recursos para implementar metas ambiciosas”, comenta a embaixadora Tatiana Rosito, do Ministério da Fazenda.
“O Rio de Janeiro tem essa vocação internacional. Eventos como o G20 entregam para a cidade não apenas contatos e recursos, mas uma janela de revitalização de equipamentos públicos, como o Palácio do Itamaraty e o Museu de Arte Moderna”, frisa Pedro Vormittag, assessor especial da Casa Civil da Prefeitura do Rio.
“Em tempos de ameaça ao multilateralismo, grupos como o T20 têm ainda mais importância para tentar implementar mudanças. Com responsabilidade, podemos voltar a ter um ambiente de cooperação multilateral”, reforça o embaixador Antonio Patriota, do Ministério das Relações Exteriores.
“Questões como a globalização, as mudanças climáticas e os níveis de confiança reduzidos têm dificultado o processo de tomada de decisões. Acreditamos que o reforço de instituições multilaterais passa pela inclusão, além do reforço de atores não governamentais. É preciso reformar a arquitetura financeira para fomentarmos a cooperação global e resiliência climática, fortalecendo bancos multilaterais para acelerar a transição energética. Outra recomendação é reforçar a governança global para haver respostas mais rápidas a riscos sanitários, digitais e organizações criminosas transnacionais”, pondera Philani Mthembu, do Institute for Global Dialogue.
Acesse o Communiqué do T20 Brasil
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