BC pode garantir inclusão bancária

Banco Central pode garantir inclusão bancária

Regulamentação do Art 192 da Constituição Federal deve fortalecer ação do banco

Os valores de solidez financeira que prevaleceram no Brasil durante a crise financeira internacional que abalou o mundo em 2008 devem estar garantidos na regulamentação do Art.192 da Constituição. O desempenho do Banco Central como regulador e fiscalizador do sistema financeiro  contribuiu significativamente para essa solidez. O assunto dominou a pauta dos debates que tomaram conta dos dois dias de realização do seminário Regulamentação do Art 192: Desenvolvimento e Cidadania promovido pelo Ipea e Sinal que ocorreu nesta quinta-feira 29, e sexta 30, em São Paulo.

Entre os palestrantes, houve quem discordasse da recente decisão do aumento da taxa Selic de juros, como Paulo Saboia, que representou a presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) no painel O Sistema Financeiro e o Desenvolvimento Nacional . "Há uma desnacionalização da economia", afirmou. Saboia listou uma série de riscos que o País está sofrendo, incluindo a compra de terras de plantio de cana e tecnologia do etanol por empresas transnacionais. A esses riscos somam-se o ingresso de recursos de forma especulativa. "As remessas para o exterior hoje representam mais que o dobro do Investimento Direto Externo (IDE)", disse.

Para ele, no entanto, "compete ao Banco Central enxergar as pressões para que o desenvolvimento do Brasil não ocorra e agir no sentido de estimular o papel do financiamento no desenvolvimento do País." A solução passa por um Conselho Monetário Nacional (CMN) mais amplo, que contemple várias áreas do setor produtivo e representativas da sociedade civil organizada.

Paulo Mustfaga, representante da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), ressaltou que a situação da agricultura está bem retratada nas pesquisas do Ipea. "O baixo acesso ao serviço bancário nas regiões menos desenvolvidas tem prejudicado a agropecuária", ressaltou ao listar ainda uma série de abusos por parte dos bancos, tanto ao renegociarem dívidas quanto na hora de oferecerem créditos vinculados à venda de outros produtos bancários que encarem o financiamento.

O ponto comum dos palestrantes de todos os paineis, de Inclusão Bancária e Responsablilidade Socioambiental dos Sistema Financeiro e do Banco Central: Função de Estado , Autonomia e Controle Social,  foi a defesa de que os bancos devem atuar dentro de um projeto de desenvolvimento do Brasil. "Temos que construir esse projeto", conclamou o representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, depois de observar que a democracia brasileira é jovem e que o País viveu um período de neoliberalismo que não permitiu avançar nas questões do papel do Estado como fiscalizador e regulador do sistema financeiro nacional.

Meireles destaca atuação do Bacen

O presidente do Banco Central, Henrique Meireles, ao proferir palestra sobre a autonomia do Banco, na manhã desta sexta-feira, destacou a atuação de regulador e fiscalizador do sistema financeiro nacional. "Os Estados Unidos não tinham qualquer fiscalização. A quebradeira ocorreu porque não existia fiscalização", afirmou e frisou: "no Brasil, as instituições financeiras são autorizadas e fiscalizadas pelo Banco Central".