Seminário discutiu os desafios da reforma agrária brasileira

Seminário discutiu os desafios da reforma agrária brasileira
O professor Plínio de Arruda Sampaio e o coordenador do MST, Gilmar Mauro, participaram do seminário
 Foto: Sidney Murrieta
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O coordenador do MST, Gilmar Mauro, fala durante o seminário,
ao lado de José Juliano Filho e Plínio de Arruda Sampaio

A Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc) do Ipea promoveu na sexta-feira, dia 4, o seminário Reforma agrária: hoje e amanhã, que faz parte do projeto Perspectivas do Desenvolvimento Brasileiro. O evento contou com a participação do coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), Gilmar Mauro, e do professor e intelectual Plínio de Arruda Sampaio.

 Os palestrantes fizeram uma análise sobre em que ponto se encontra a reforma agrária no Brasil na conjuntura mundial e que reforma é essa. Mauro destacou que o País passou por uma crise econômica agravada por uma enorme crise social, que se transforma em uma verdadeira barbárie. “Além dos problemas sociais que assolam nossa sociedade, temos a crise ambiental. Chegou-se à quantidade de 1,6 bilhão de automóveis no mundo, e esse crescimento atende à lógica do sistema de capital: produzir e vender”, afirmou o integrante do MST.

 Ele ressaltou ainda que não se pode pensar apenas em reforma agrária distributiva, pois é necessário ressignificar o papel da reforma agrária atualmente, realizando uma ampla discussão com a sociedade sobre o uso do solo e o futuro dessa reforma.

 Brasil moderno
“Pessimismo da razão e otimismo da vontade.” Foi com a expressão do seringueiro Chico Mendes que Arruda Sampaio iniciou sua exposição. Ele defendeu que é essencial falar em reforma estrutural agrária e levar em consideração o papel das classes proprietárias e camponesas na construção da democracia moderna.

 “Reforma agrária é distribuição e concentração de terra”, distinguiu Sampaio. Segundo ele, nos 500 anos de história do Brasil, realizou-se apenas uma reforma agrária, que foi a Lei de Terras de 1950, “a essência do Brasil moderno”. Esse fato também delimitou o entendimento de riqueza atual, pois antes riqueza não era quantificada pelas terras que as pessoas possuíam, mas pela quantidade de escravos elas que tinham.

 O professor assegurou que já existe uma reforma agrária em curso, promovida pelo capital estrangeiro. Para ele, a função do País na economia do mundo mudou. Atualmente, existem quatro produtos fundamentais de interesse mundial: soja para alimentar o gado, carne para exportação, cana de açúcar para composição de combustíveis, e a madeira. O professor explicou que isso exige uma concentração de terras bem maior do que a existente no Brasil e que o capital estrangeiro necessita ter controle do território agrícola brasileiro. Sampaio concluiu que o País não tem soberania em relação ao território nacional, pois este está sob controle do capital estrangeiro.