China visa tornar o yuan moeda-reserva internacional
Publicado em 17/08/2009 - Última modificação em 22/09/2021 às 05h04
Publicado em 17/08/2009 - Última modificação em 22/09/2021 às 05h04
China visa tornar o yuan moeda-reserva internacional
A estratégia, discutida no Ipea, começou com uma atuação regional
Foto: Sidney Murrieta |
A China já atua para transformar sua moeda, o yuan, em uma moeda-reserva internacional, aproveitando o bom desempenho de sua economia mesmo durante a crise global. O assunto foi abordado pelos técnicos de Planejamento e Pesquisa do Ipea Marcos Antonio Cintra e André Rego Viana, durante o seminário Impactos da Crise sobre os Fluxos de Comércio Brasileiros, realizado nesta segunda-feira, dia 17, às 14h30, na sede do Instituto em Brasília (SBS, Qd. 1, Bl. J, Ed. BNDES, 16º andar).
"Eles vão tentar construir o yuan como moeda-reserva internacional. A China é um país que se industrializou na moeda dos outros, exportando e acumulando reservas em dólar, mas eles sabem que, para disputar a hegemonia internacional, precisam de uma moeda. Então, vão construir esse processo, que já está em fase de criação", afirmou Cintra, ressaltando que a estratégia passa, primeiro, por uma atuação regional.
Viana revelou que, em questão de poucos meses, foram pouco mais de US$ 100 bilhões em swap de moedas realizados pela China em nações vizinhas e próximas. "A pergunta que surge é: isso é um movimento de defesa ou eles vieram disputar a hegemonia monetária?", questionou. O técnico lembrou que, iniciada a crise, os chineses ensaiaram uma manobra para ressuscitar a proposta keynesiana, mas, depois, começaram a agir no sentido de tornar o yuan uma moeda internacional.
Na palestra anterior, Marta Castilho (foto), professora da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), detalhou a relevância das importações chinesas na nova configuração da pauta de exportações do Brasil. "Existe uma mudança setorial e geográfica nas exportações (brasileiras) que pode transformar o perfil delas", disse Castilho.
A professora lembrou que, neste ano, ainda em meio à crise, os produtos não industriais ganharam peso na pauta de exportações do Brasil. São principalmente esses produtos básicos que o país vende para a China - os três primeiros da lista são soja em grãos, minério de ferro e pastas químicas de madeira. Por sua vez, mercados que consomem mais produtos manufaturados brasileiros, como Estados Unidos e Argentina, viram o comércio bilateral cair muito.
Outro palestrante foi João Luis Rossi, coordenador de Negociações de Acordos Comerciais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Ele destacou o fato de a China ter saltado de terceiro destino das exportações brasileiras em 2008 para o primeiro lugar em 2009. Mas afirmou que os EUA devem retomar a posição de liderança nos próximos meses.
Ele detalhou a "Agenda China" do ministério, que pretende construir uma estratégia integrada pelo governo e pela iniciativa privada para melhorar as relações comerciais com os chineses. Segundo Rossi, as importações da China são boas "na medida em que 70% dos componentes e máquinas comprados pelo Brasil são utilizados na indústria nacional, e não correspondem a badulaques". O evento Impactos da Crise sobre os Fluxos de Comércio Brasileiros foi organizado por Luciana Acyoli, coordenadora de Estudos das Relações Internacionais e do Desenvolvimento (Cerid) do Ipea.