Chamada de artigos para a edição nº 40, 2024/3, do Boletim de Economia e Política Internacional

Tema da edição especial: Efeitos da ascensão econômica da China sobre outros países e regiões do mundo

Prazo de submissão: 28 de fevereiro de 2025

Os artigos devem ser enviados identificados para: bepi@ipea.gov.br 

A China é, inquestionavelmente, o caso mais impressionante de ascensão econômica do mundo contemporâneo. Não apenas pela velocidade do crescimento de seu PIB per capita, mas sobretudo por ter sido capaz de fazê-lo a despeito de sua gigantesca população de mais de 1,3 bilhão de habitantes. A conjugação dessas duas variáveis gerou impactos substanciais sobre outras partes do mundo.

Hoje são mais do que conhecidos os “efeitos-China” gerados, por exemplo, nos mercados de commodities agrícolas e minerais e nos mercados de bens manufaturados. Do mesmo modo, o magnetismo exercido pelo país asiático sobre as corporações transnacionais nas duas primeiras décadas deste século, seja por conta de seus custos unitários de produção relativamente baixos, seja pela atratividade de seu mercado consumidor doméstico, levou a volumosos ingressos de investimentos externos que, por sua vez, proporcionaram um acelerado processo de aprendizagem e de catch-up tecnológico das firmas chinesas, que atualmente despontam como líderes tecnológicos em diversos segmentos industriais e de serviços.

Entre os efeitos da globalização produtiva, que teve no deslocamento de parte expressiva da produção manufatureira mundial para o continente asiático, especialmente para a China, está o esvaziamento das cadeias produtivas em outras partes do globo e a crescente dependência de importações. Inicialmente, tal movimento esteve concentrado em estágios produtivos mais dependentes de baixos custos de mão-de-obra, como a montagem de produtos eletrônicos e o corte e costura de itens de vestuário. Essa imagem das plantas chinesas, ainda viva no imaginário popular, no entanto está cada vez mais distante da realidade. Empresas do país têm avançado rapidamente nas cadeias globais de valor (CGVs), adentrando cada vez mais os estágios considerados mais nobres – como concepção de produto, design e branding – por reterem a maior parte do valor gerado das CGVs.

Políticas industriais agressivas, típicas do modelo de Estado desenvolvimentista asiático, associadas a oportunidades tecnológicas únicas, possibilitaram às empresas chinesas se tornarem líderes em setores associados à transição energética, como as indústrias de equipamentos para geração de energia eólica e solar e a de baterias e veículos elétricos. O rápido domínio alcançado pelas empresas chinesas constitui ameaça não apenas para suas concorrentes diretas no resto do mundo como também para as empresas líderes da velha economia intensiva em emissões de carbono, como as montadoras de carros a combustão e as empresas petrolíferas.

A transformação da China, no início deste século, em “fábrica do mundo” proporcionou aos países de alta renda um período de rápido crescimento com baixa inflação, que, no entanto, teve efeitos heterogêneos entre regiões e grupos sociais. As áreas mais industrializadas destes países, assim como os trabalhadores de chão de fábrica, acabaram penalizados pela relocalização da produção manufatureira das empresas transnacionais dos países ocidentais para a Ásia. Esse progresso desigual, por sua vez, acabou surtindo efeitos políticos e eleitorais, corroborados em pleitos em diversos países.

A ascensão da China também brindou os demais países em desenvolvimento com substanciais ganhos em seus termos de troca. Isso possibilitou, em um primeiro momento, alívio nos problemas de balanço de pagamentos enfrentados recorrentemente por esses países, que puderam, assim, elevar suas taxas de investimento e também aumentar seus gastos com políticas sociais.

Todavia, os elevados superávits comerciais acumulados pela China logo se traduziram em um grande volume de divisas, o que possibilitou ao país adotar a política Go Global, visando internacionalizar suas empresas. A despeito de ainda ser um país de renda média, a China rapidamente se converteu em grande investidor e, também, grande financiador internacional. O ápice deste movimento foi o lançamento da Nova Rota da Seda – Belt and Road Iniciative (BRI) – em 2013. Atualmente, cerca de 150 países possuem acordos de cooperação com a China no âmbito da BRI.

Estima-se que as firmas chinesas aportaram mais de US$ 1,4 trilhão em aquisições de empresas e novos projetos (greenfield) de investimento externo direto (IED) entre 2005 e 2023, englobando setores como energia, mineração, transportes, agricultura, tecnologia, entre outros. Por sua vez, as entidades chinesas de financiamento, incluindo o Banco de Desenvolvimento da China (China Development Bank - CDB), o Banco de Exportação e Importação (China Export-Import Bank - Chexim), além de bancos de natureza comercial, desembolsaram cerca de US$ 1,3 trilhão em projetos de desenvolvimento e cooperação ao longo das duas últimas décadas, especialmente na Ásia, África e América Latina.

Esse movimento em direção a regiões negligenciadas pelas instituições tradicionais de financiamento, muitas das quais ainda guardam profundos ressentimentos do período colonial, tem gerado ganhos geopolíticos para o país asiático. Potências tradicionais, por sua vez, rotulam as ações chinesas como “exploração de recursos”, “armadilha da dívida” ou mesmo como “novo colonialismo”. Neste rol de questionamentos à projeção global da China e de suas empresas e entidades financeiras, em especial no âmbito da BRI, as críticas se dirigem, entre outros aspectos, à opacidade dos contratos bilaterais de empréstimo e financiamento, ao patrocínio de projetos poluidores, à (baixa) qualidade dos padrões de construção adotados em obras no exterior e aos impactos financeiros e socioambientais de grandes empreendimentos de infraestrutura.

A despeito do grande mercado consumidor e da relevância das plantas produtivas localizadas na China para as suas empresas, as principais potências ocidentais não têm permanecido inertes à ascensão chinesa. Pode-se mesmo dizer que o primeiro governo de Donald Trump (2017-2021) levou adiante uma guerra fria comercial e tecnológica, manifestada, por exemplo, na elevação de alíquotas de importação e acusações de espionagem contra empresas chinesas. O retorno de Trump à presidência dos Estados Unidos em 2025, com uma retórica ainda mais inflamada em relação à China deve, por um lado, contribuir para um aprofundamento dos impasses existentes atualmente na governança global, atinentes a organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (OMC) e, por outro lado, impulsionar uma corrida dos países em direção a medidas unilaterais defensivas, com reflexos sobre os fluxos comerciais.

O enriquecimento da China também tem possibilitado aumento expressivo em seus gastos militares. Embora ainda substancialmente inferiores aos gastos dos Estados Unidos, os investimentos chineses em armamentos têm crescido rapidamente, o que levanta dúvidas em relação a movimentos futuros do país, especialmente em seu entorno estratégico. Países do Sudeste Asiático, em particular, podem vir a buscar alianças com potências extrarregionais de forma a contrabalançar a ameaça latente chinesa.

Considerando todos esses aspectos, esta edição do Boletim de Economia e Política Internacional tem como objetivo lançar luzes sobre os impactos da ascensão econômica da China, entendida de forma ampla de modo a abarcar os efeitos sobre as dinâmicas internas do país assim como sobre sua capacidade de projeção geopolítica e militar, sobre a economia e a política internacional contemporâneas, em especial sobre países e regiões específicos. Espera-se que, entre outros, os artigos abordem os efeitos da ascensão chinesa sobre:

- o comércio internacional;

- as cadeias globais de valor (CGVs);

- a divisão internacional do trabalho;

- o padrão concorrencial global decorrente do domínio de mercado por empresas chinesas, especialmente em segmentos ligados à transição energética (baterias, veículos elétricos, equipamentos para geração eólica e solar, minerais críticos);

- dominância (e dependência) tecnológica em setores-chave da economia;

- a organização das nações em blocos econômicos e comerciais;

- a integração produtiva entre países e regiões;

- a governança global e o funcionamento de organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e suas agências, a OMC, o FMI e o Banco Mundial.

Em relação aos países e regiões afetados, espera-se que os artigos abordem os efeitos do engajamento da China sobre:

- padrões de comércio, como pauta de exportação e importação;

- participação na divisão internacional do trabalho;

- participação em CGVs;

- decisões de investimento de empresas transnacionais;

- formação de capital fixo, especialmente em infraestrutura, viabilizada por investimentos externos ou financiamentos chineses;

- projetos internacionais de integração de infraestrutura;

- transição energética e difusão de tecnologias verdes (baixo carbono);

- acesso a recursos externos, por meio de empréstimos e financiamentos e ações de cooperação internacional para o desenvolvimento (CID);

- finanças externas, incluindo alívio e/ou aprofundamento de desequilíbrios no balanço de pagamentos em decorrência de superendividamento externo;

- políticas econômicas domésticas, incluindo políticas comercial e industrial;

- crescimento econômico e mudança estrutural;

- construção de capacidades locais;

- cooperação internacional para o desenvolvimento;

- padrões trabalhistas, sociais e ambientais de empreendimentos chineses, especialmente aqueles relacionados a economias de enclave;

- dependência tecnológica;

- gastos e investimentos militares;

- percepção da população e dos líderes políticos e empresariais sobre a China e o nível de aceitação dos discursos e narrativas oficiais chineses;

- opinião pública doméstica e (re)alinhamentos ideológicos na nova configuração do poder mundial.

Diretrizes para os autores:

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